terça-feira, 23 de setembro de 2008

Para líder tucano, só 'unidade' salva PSDB em 2010

José Aníbal atribui popularidade de Lula a três fatores

‘Tem a ver com sorte, astúcia e pragmatismo’, afirma

Acha que, em 2010, presidente será ‘um eleitor forte’

Considera ‘muito provável’ que Dilma vá ao ‘2º turno’

Condiciona o êxito do tucanato à unidade Serra-Aécio



Folha
O líder do PSDB na Câmara falou ao blog na noite desta segunda (22), sob o impacto da pesquisa Sensus: popularidade de Lula em 77,7% e aprovação do governo em 68,8%. Vai abaixo a entrevista do deputado José Aníbal (PSDB-SP):



- A que atribui a alta popularidade de Lula?

Tem a ver com sorte, astúcia na propaganda e pragmatismo na economia.

- Como assim?

Na eleição passada o Lula criou o biocombustível. Agora, veio com o pré-sal. Ele percebeu, antes de todo mundo, que o pré-sal é um ovo do Colombo em termos políticos. E se não de em nada? Não tem a menor importância. Ele fica alimentando isso. Cria um clímax. Faz da mera possibilidade uma certeza absoluta de que o país será um dos maiores exportadores de petróleo do mundo no curto prazo. E fatura os dividendos políticos.

- Não atribui importâncias aos programas sociais?

Claro que sim. O Lula demorou pra perceber. Começou o governo perdendo tempo com o Fome Zero. Mas logo notou a importância da rede de proteção social iniciada no governo Fernando Henrique.

- Isso não foi correto?

Está certo. Ele pegou o cadastro dos quatro programas criados pelo Fernando Henrique: Bolsa Alimentação, Bolsa Escola, Vale Gás e combate ao trabalho infantil. E unificou tudo num único programa.

- E quanto ao desempenho da economia?

Nesse ponto entra o pragmatismo do Lula. Ele não tem nenhum compromisso de natureza ideológica, zero. É um pragmático.

- Isso é bom ou ruim?

Na economia foi bom. Essa qualidade o levou a se empenhar para preservar os fundamentos econômicos, contra tudo o que preconizava no passado. Isso não é coisa só do [Antônio] Palocci. É do Lula. Se não fosse o Palocci seria outro. O pragmatismo do Lula está na Carta ao Povo Brasileiro. Ali está o Lula por inteiro –um sindicalista objetivo, negociador, que busca resultados.

- Então, a seu juízo, a popularidade do presidente está fundada num tripé?

Exatamente. Empregou o pragmatismo na economia e na fusão dos programas sociais. Vale-se de uma intuição para a propaganda que nenhum outro tem. Além disso, teve sorte e não tem compromisso com nada e com ninguém, só com ele mesmo. Mistura tudo isso com o vento a favor que sopra na economia mundial e chega-se a esse índice de popularidade.

- A crise nos EUA não representa uma virada no ambiente favorável?

Claro que sim. Mas ainda não surtiu efeitos no Brasil. Além disso, o Lula, de novo, constrói o discurso à sua maneira. Num primeiro momento, ele disse: ‘Isso é problema do Bush.’ Depois, teve de admitir: ‘Bom, sempre que os EUA entram em crise devemos nos preocupar.’ É óbvio que se essa crise se aprofunda, acaba afetando o Brasil.

- Não acha que falta discurso ao PSDB para se contrapor ao Lula?

Discurso o PSDB tem. O que falta ao partido é unidade.

- Qual é o discurso?

Se você ligar para qualquer liderança nacional nossa, vai ver que todas têm uma boa reflexão. Com começo, meio e fim. O que falta pra nós é uma ação mais combinada, mais convergente. Precisamos nos comportar de modo mais unitário, em conjunto.

- Falta de unidade é problema para 2010, não?

Sim. O grande problema nosso para 2010 chama-se unidade.

- Refere-se a José Serra e Aécio Neves?

Exatamente. Não há outro caminho pra nós em 2010 que não seja a unidade entre Serra e Aécio.

- Lula prevaleceu duas vezes sobre um PSDB desunido –Serra, em 2002; e Alckmin, em 2006. O que o leva a crer que haverá unidade em 2010?

Vivemos nesse período a que você se refere uma fase em que a afirmação do projeto do partido ficou menos importante do que os candidatos. Não assumimos o que fizemos de bom. As duas campanhas foram importantes, mas se apresentaram dissociadas do que o partido tinha conquistado.

- Envergonharam-se da fase FHC?

É o que eu acho. Deixamos de agregar ao nosso discurso conquistas importantes e inegáveis. Aí entra o Lula com o estilo Carta ao Povo brasileiro. O que ele sinalizou: ‘Olha, pessoal, nós vamos fazer o nosso dever de casa direitinho.’

- Não acha que, mantida a popularidade, Lula chega a 2010 com chances de fazer o sucessor?

Ele é, sem dúvida, um eleitor forte.

- Dificilmente deixará de levar Dilma Rousseff pelo menos ao segundo turno, não acha?

Ele diz que vai eleger. É preciso considerar que o quadro será outro. Não sei se pior ou melhor pra ele. Mas é muito provável que ele consiga levar alguém para o segundo turno. Ele e a máquina que se formou em torno dele. O Lula exerce poder hegemônico sobre o PT. Os chamados partidos aliados estão totalmente dependentes dele, que negocia tudo. Juntando ele e essa máquina, evidentemente, dá densidade para uma candidatura presidencial.

- Como enfrentar?

Por isso falo de unidade. Para nós, hoje, competência tornou-se sinônimo de unidade. Se tivermos unidade, principalmente entre Serra e Aécio, juntamos o partido inteiro, agregamos outras forças políticas e ganhamos a eleição.

- Refere-se a uma chapa puro sangue?

Não necessariamente. O essencial é que os dois estejam juntos. E quando digo juntos, quero dizer juntos pra valer. Pra nós, não tem outro caminho.

- Que tipo de país acha que Lula vai entregar?

O Lula é extremamente conservador, não entra em bola dividida. Não fez e não fará nenhuma das reformas importantes. Vai entregar, ele sim, a herança maldita. É licencioso. Opera com o momento. Está entrando mais dinheiro? Então gasta mais, desbragadamente. E deixa a bomba para o próximo.

Escrito por Josias de Souza às 02h17

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