José Aníbal atribui popularidade de Lula a três fatores
‘Tem a ver com sorte, astúcia e pragmatismo’, afirma
Acha que, em 2010, presidente será ‘um eleitor forte’
Considera ‘muito provável’ que Dilma vá ao ‘2º turno’
Condiciona o êxito do tucanato à unidade Serra-Aécio
Folha
O líder do PSDB na Câmara falou ao blog na noite desta segunda (22), sob o impacto da pesquisa Sensus: popularidade de Lula em 77,7% e aprovação do governo em 68,8%. Vai abaixo a entrevista do deputado José Aníbal (PSDB-SP):
- A que atribui a alta popularidade de Lula?
Tem a ver com sorte, astúcia na propaganda e pragmatismo na economia.
- Como assim?
Na eleição passada o Lula criou o biocombustível. Agora, veio com o pré-sal. Ele percebeu, antes de todo mundo, que o pré-sal é um ovo do Colombo em termos políticos. E se não de em nada? Não tem a menor importância. Ele fica alimentando isso. Cria um clímax. Faz da mera possibilidade uma certeza absoluta de que o país será um dos maiores exportadores de petróleo do mundo no curto prazo. E fatura os dividendos políticos.
- Não atribui importâncias aos programas sociais?
Claro que sim. O Lula demorou pra perceber. Começou o governo perdendo tempo com o Fome Zero. Mas logo notou a importância da rede de proteção social iniciada no governo Fernando Henrique.
- Isso não foi correto?
Está certo. Ele pegou o cadastro dos quatro programas criados pelo Fernando Henrique: Bolsa Alimentação, Bolsa Escola, Vale Gás e combate ao trabalho infantil. E unificou tudo num único programa.
- E quanto ao desempenho da economia?
Nesse ponto entra o pragmatismo do Lula. Ele não tem nenhum compromisso de natureza ideológica, zero. É um pragmático.
- Isso é bom ou ruim?
Na economia foi bom. Essa qualidade o levou a se empenhar para preservar os fundamentos econômicos, contra tudo o que preconizava no passado. Isso não é coisa só do [Antônio] Palocci. É do Lula. Se não fosse o Palocci seria outro. O pragmatismo do Lula está na Carta ao Povo Brasileiro. Ali está o Lula por inteiro –um sindicalista objetivo, negociador, que busca resultados.
- Então, a seu juízo, a popularidade do presidente está fundada num tripé?
Exatamente. Empregou o pragmatismo na economia e na fusão dos programas sociais. Vale-se de uma intuição para a propaganda que nenhum outro tem. Além disso, teve sorte e não tem compromisso com nada e com ninguém, só com ele mesmo. Mistura tudo isso com o vento a favor que sopra na economia mundial e chega-se a esse índice de popularidade.
- A crise nos EUA não representa uma virada no ambiente favorável?
Claro que sim. Mas ainda não surtiu efeitos no Brasil. Além disso, o Lula, de novo, constrói o discurso à sua maneira. Num primeiro momento, ele disse: ‘Isso é problema do Bush.’ Depois, teve de admitir: ‘Bom, sempre que os EUA entram em crise devemos nos preocupar.’ É óbvio que se essa crise se aprofunda, acaba afetando o Brasil.
- Não acha que falta discurso ao PSDB para se contrapor ao Lula?
Discurso o PSDB tem. O que falta ao partido é unidade.
- Qual é o discurso?
Se você ligar para qualquer liderança nacional nossa, vai ver que todas têm uma boa reflexão. Com começo, meio e fim. O que falta pra nós é uma ação mais combinada, mais convergente. Precisamos nos comportar de modo mais unitário, em conjunto.
- Falta de unidade é problema para 2010, não?
Sim. O grande problema nosso para 2010 chama-se unidade.
- Refere-se a José Serra e Aécio Neves?
Exatamente. Não há outro caminho pra nós em 2010 que não seja a unidade entre Serra e Aécio.
- Lula prevaleceu duas vezes sobre um PSDB desunido –Serra, em 2002; e Alckmin, em 2006. O que o leva a crer que haverá unidade em 2010?
Vivemos nesse período a que você se refere uma fase em que a afirmação do projeto do partido ficou menos importante do que os candidatos. Não assumimos o que fizemos de bom. As duas campanhas foram importantes, mas se apresentaram dissociadas do que o partido tinha conquistado.
- Envergonharam-se da fase FHC?
É o que eu acho. Deixamos de agregar ao nosso discurso conquistas importantes e inegáveis. Aí entra o Lula com o estilo Carta ao Povo brasileiro. O que ele sinalizou: ‘Olha, pessoal, nós vamos fazer o nosso dever de casa direitinho.’
- Não acha que, mantida a popularidade, Lula chega a 2010 com chances de fazer o sucessor?
Ele é, sem dúvida, um eleitor forte.
- Dificilmente deixará de levar Dilma Rousseff pelo menos ao segundo turno, não acha?
Ele diz que vai eleger. É preciso considerar que o quadro será outro. Não sei se pior ou melhor pra ele. Mas é muito provável que ele consiga levar alguém para o segundo turno. Ele e a máquina que se formou em torno dele. O Lula exerce poder hegemônico sobre o PT. Os chamados partidos aliados estão totalmente dependentes dele, que negocia tudo. Juntando ele e essa máquina, evidentemente, dá densidade para uma candidatura presidencial.
- Como enfrentar?
Por isso falo de unidade. Para nós, hoje, competência tornou-se sinônimo de unidade. Se tivermos unidade, principalmente entre Serra e Aécio, juntamos o partido inteiro, agregamos outras forças políticas e ganhamos a eleição.
- Refere-se a uma chapa puro sangue?
Não necessariamente. O essencial é que os dois estejam juntos. E quando digo juntos, quero dizer juntos pra valer. Pra nós, não tem outro caminho.
- Que tipo de país acha que Lula vai entregar?
O Lula é extremamente conservador, não entra em bola dividida. Não fez e não fará nenhuma das reformas importantes. Vai entregar, ele sim, a herança maldita. É licencioso. Opera com o momento. Está entrando mais dinheiro? Então gasta mais, desbragadamente. E deixa a bomba para o próximo.
Escrito por Josias de Souza às 02h17
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