domingo, 25 de novembro de 2007

2010 leva PT e PSDB a jogo de "gato e rato"

25/11/2007 - 10h36

MALU DELGADO
Editora-assistente de Brasil da Folha

Petistas e tucanos, que reestruturam a partir de agora suas direções partidárias com a escolha de presidentes e novas comissões executivas nacionais, só têm, até o momento, uma certeza: ambos terão candidatos próprios em 2010. O PSDB elegeu na última sexta-feira a direção partidária e o PT passará pelo mesmo processo no próximo final de semana. As duas siglas trabalham com o cenário de disputa polarizada entre essas duas forças políticas, mesmo com a candidatura de Ciro Gomes (PSB-CE).

Nenhum dos dois pólos aposta numa candidatura do incógnito e volúvel PMDB, apesar de verem os nomes do governador Sérgio Cabral (RJ) e do ministro Nelson Jobim (Defesa) entre as possibilidades, mas não para cabeça de chapa. Nas palavras de um dirigente do PSDB, o PMDB acostumou-se a ser um partido só de federações, sem pretensões nacionais.

A nova direção do PSDB não acha improvável atrair parte dos peemedebistas. Comemorou a presença, no 3º Congresso da sigla, dos senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Mão Santa (PMDB-PI). Vêem, em ambos, importantes pólos de apoio no Nordeste, região onde o PSDB têm desempenhos eleitorais frustrantes.

Essas realidades já impostas no campo da política a mais de três anos do pleito presidencial são fundamentais para as novas direções das legendas traçarem suas estratégias eleitorais, ainda que os nomes dos protagonistas permaneçam nebulosos.

No PSDB, os novos dirigentes resumem a disputa entre os presidenciáveis José Serra (SP) e Aécio Neves (MG): o primeiro se articula vorazmente para ter o controle interno de praticamente todo o partido --exceto em Minas Gerais-- e o segundo só se viabiliza se fizer uma costura política "por fora", atraindo apoios e alianças fortes para uma chapa com o PSDB.

As chances do mineiro aumentariam na medida em que apresente um resultado administrativo inovador no Estado. Ele elegeu duas áreas de destaque no segundo mandato: educação e segurança pública.

A fuga de Aécio Neves para uma outra legenda não é, na avaliação atual da cúpula tucana, uma realidade a ser considerada. "Possibilidade zero", "impossível" e "esqueça isso" são palavras e frases automáticas de dirigentes tucanos quando questionados sobre o tema.

O raciocínio é simples: o PSDB precisa dele e a recíproca é verdadeira. Aécio não teria sustentabilidade no fragmentado PMDB e não há espaço para ele no PSB de Ciro Gomes.

Já para José Serra, o grande teste será a condução política da disputa pela prefeitura de São Paulo. Será obrigado a definir o apoio ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) ou ao prefeito Gilberto Kassab (DEM), ou convencer um dos dois a desistir da disputa.

Predador x herbívoro

Um rival que nutre relações amistosas com Serra faz uma analogia da disputa entre os dois pré-candidatos tucanos que talvez ajude a entender como as coisas se dão no mundo da política: "É a disputa entre um predador e um herbívoro".

Com Serra ou Aécio, os tucanos se fiam em outra certeza: ainda que Luiz Inácio Lula da Silva esteja fora da disputa eleitoral pela primeira vez desde 1989 e esse fato torne o quadro bastante imprevisível, o candidato que o petista apoiar passa a ser viável. Na definição dos dirigentes tucanos, o candidato forte do PT é o candidato que Lula apoiar, "ainda que seja um poste".

Dilma e Patrus

Debates da nova direção tucana revelam um temor ainda discreto com as candidaturas dos ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Dilma Rousseff (Casa Civil). Em debates recentes, a cúpula tucana deu como certo que Dilma é a favorita de Lula e é o nome no qual ele aposta.

Para o PT, Dilma não é um nome identificado com a "personalidade petista", mas é articulada, politicamente capaz e bastante disponível às demandas partidárias.

Mas o discretíssimo Patrus é quem mais preocupa parte do PSDB. Os petistas associam a imagem do mineiro à de um "santo não canonizado". Ou seja, é um espécime raro na política contra o qual, dizem, não se acha nenhum "rabo preso".

"Pegue os sete pecados capitais. Todos. Patrus nunca cometeu nenhum. Nem o da gula", brinca um parlamentar petista que pede o anonimato.

O homem que o PT considera não ter pecados apresentaria outras duas qualidades, na visão tucana: é o ministro que gerencia o Bolsa Família, ponto forte do governo Lula e, além disso, teria chances de boa votação em Minas Gerais --um território que vira campo minado para José Serra caso ele saia candidato sem o apoio explícito e engajado de Aécio.

Nas projeções petistas, a viabilidade maior é mesmo a candidatura de Serra. Porém, arrepiam só de pensar numa mudança de cenário com Aécio Neves na cabeça da chapa tucana. Acham que, ao contrário de Serra, ele tem forte carisma e teria uma penetração muito forte no Nordeste.

Isso sem contar o absoluto controle eleitoral de Aécio sobre o segundo maior colégio eleitoral do país, a adesão maciça de prefeitos, com uma imprensa simpática à sua gestão no Estado. Em contrapartida, o mineiro poderia ter dificuldades de voto em São Paulo se também não contasse com José Serra como cabo eleitoral.

E Ciro Gomes? Para os aliados do ex-ministro, enquanto PSDB e PT minimizam sua candidatura, ele se viabiliza. E pode --"por que não?"-- compor até com o PMDB.

Mas a julgar pelos primeiros passos da sucessão presidencial de 2010 nos gabinetes de Brasília, PT e PSDB farão de tudo para polarizar, de novo, a próxima eleição.



http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u348432.shtml

sábado, 24 de novembro de 2007

Contra Alckmin, Serra torce por Marta em SP (Kennedy Alencar - colunista da Folha Online)

08/07/2007

As articulações tucanas e petistas para as eleições municipais de 2008 andam a mil por hora. Para o governador de São Paulo, José Serra, é uma má notícia a possibilidade da candidatura a prefeito do ex-governador e correligionário Geraldo Alckmin.

Postulante derrotado do PSDB à Presidência em 2006, Alckmin se movimenta para voltar à primeira divisão da política. A Prefeitura de São Paulo é seu objetivo. Serra não teria força para barrar a candidatura no partido, mas poderia fazer corpo mole e atrapalhar bastante a sua eleição. Por isso, Alckmin tenta algum tipo de acordo de cavalheiros com o governador paulista.

Problema: Serra teme que, uma vez eleito, Alckmin reforce a articulação do governador de Minas, Aécio Neves, para ser o candidato do PSDB a presidente em 2010.

Aécio tem se movimentado com competência nos bastidores, costurando pontes com Lula e namorando o PMDB, uma alternativa se perder a disputa no tucanato para Serra.

Como joga todas as fichas para ser candidato a presidente em 2010, o governador paulista acharia uma vitória de Marta na capital paulistana em 2008 mais favorável aos seus planos do que a eventual eleição de Alckmin.

Serra acredita que dificilmente Marta será a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto na disputa de 2010. Restaria a ela concorrer ao governo paulista, já que resiste a entrar no páreo municipal.

Em 2010, Marta poderia ser adversária de Serra, caso ele opte por tentar a reeleição. Mas o governador aposta mesmo na candidatura a presidente. No caso de uma eleição contra Marta no Estado de São Paulo, acha que levaria vantagem.

O candidato do coração de Serra para o pleito paulistano de 2008 é o atual prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM). O "Projeto Kassab", se vencedor, ajudaria o tucano a obter o apoio do DEM na disputa presidencial de 2010.

Mas o governador paulista sabe ser pequena a chance de Kassab vencer com Alckmin na parada. Daí preferir até Marta em relação ao companheiro de partido. Coisas da política.

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Imbróglio petista

Marta tem rejeitado todos os apelos de seu grupo político para ser candidata à Prefeitura de São Paulo. Ela tem tido bom desempenho nas pesquisas, mas teme que lhe falte gás na hora crucial.

Prefere se dedicar ao Ministério do Turismo, trabalho que tem adorado. Habilmente, ela se colocou fora da disputa presidencial de 2010. Mira assumidamente no Palácio dos Bandeirantes. Uma candidatura presidencial dependerá de muitos fatores.
No PT, considera-se que ela será candidata ao governo paulista com facilidade se não alçar vôo presidencial.

Na disputa municipal do ano que vem, o candidato petista teria de receber a bênção política da ex-prefeita. Os aliados de Marta obtiveram quase 60% do Diretório Municipal do PT. Mesmo que haja prévia, com voto direto dos filiados, uma máquina assim pesa decisivamente.

Mais: com exceção de Marta, não há nomes naturais no PT para concorrer a prefeito da maior cidade do país.

O senador Aloizio Mercadante tem dificuldade de ser aceito pela máquina do partido. É a mesma situação do ministro Fernando Haddad (Educação), técnico bem avaliado pelo presidente. Lula gostaria de testá-lo numa eleição.

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, é uma revelação negativa. Conquistou a Câmara, mas faz gestão apagada. Seria presa fácil para Alckmin.

Os deputados federais José Eduardo Cardozo e Jilmar Tatto também cobiçam a prefeitura. Cardozo tem boa imagem entre os chamados formadores de opinião, mas padece do mesmo mal de Mercadante: pouco apoio na máquina petista paulista e paulistana.

Tatto é ligadíssimo a Marta. Seu grupo tem peso no Diretório Municipal. No entanto, é praticamente um desconhecido da grande maioria do eleitorado. Seria presa fácil não só para Alckmin, mas também para Gilberto Kassab.

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Presidência do PT

O atual comandante do PT, deputado federal, Ricardo Berzoini, movimenta-se para tentar a reeleição. Muito difícil após o dossiegate de 2006.

No Palácio do Planalto, há bastante simpatia por Marco Aurélio Garcia, que segurou o rojão na crise do dossiê. Assessor especial de Lula para assuntos internacionais, teria de deixar o posto.

As diversas tendências petistas fazem suas apostas. Duas delas se destacam. Uma ala fala na possibilidade de uma "volta por cima" do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho. Outra prega a candidatura do ex-ministro das Cidades Olívio Dutra.

Em setembro, haverá o 3° Encontro do PT. Dá-se como certo que será marcada nova eleição para o comando nacional do partido.

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Outro lado

Roberto Nogueira, assessor de imprensa do PSDB paulista, envia o seguinte "esclarecimento" sobre esta coluna: "O texto do senhor Kennedy Alencar a respeito do pensamento do senhor José Serra sobre as eleições municipais de São Paulo é invenção pura do autor e/ou das fontes que o teriam informado. O jornalista não teve a preocupação de conhecer previamente os projetos do senhor José Serra, não tentou ouvi-lo nem seus assessores".

Recordar é viver

Serra mantém a tradição de cortesia em relação a jornalistas que escrevem textos que o desagradam. No caso deste colunista, não foi a primeira vez que ele enviou, por emissários, mensagem tão elegante --própria de um aspirante à Presidência da República reconhecido pela tolerância a críticas. Como recordar é viver, vamos lá.

No governo FHC, Serra mandou uma assessora de imprensa negar que fora convidado para o Ministério da Saúde. Na eleição de 2002, foi a vez de outro assessor negar que o publicitário Nizan Guanaes assumiria o marketing de sua campanha. Tais informações, entre outras antecipadas por este jornalista a respeito de Serra, também foram objeto de "esclarecimentos" educados como o do sr. Nogueira.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kalencar@folhasp.com.br

http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/brasiliaonline/ult2307u310313.shtml

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Quem sou eu

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.