sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Com Lula, PT e PMDB se reúnem em Brasília para administrar crises estaduais
   
Josias de Souza

Imagem aérea da Granja do Torto, que será convertida em comitê reeleitoral de Dilma neste sábado
As cúpulas do PT e do PMDB se reúnem em Brasília neste sábado para discutir as crises que separam as duas legendas em vários Estados. Recostarão os cotovelos sobre a mesa quatro representantes de cada legenda. Pelo PT: Lula, Dilma Rousseff, Rui Falcão e Aloizio Mercadante. Pelo PMDB: Michel Temer, Henrique Eduardo Alves, Renan Calheiros e Valdir Raupp.
Embora a coreografia interesse apenas ao comitê reeleitoral de Dilma, o palco será financiado pelo contribuinte. Marcado para as 10h, o encontro ocorrerá na Granja do Torto, residência de campo da Presidência da República. Há litígios em pelo menos 11 Estados: Rio, Minas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Ceará, Paraíba, Maranhão, Pernambuco e Bahia.
Em Estados como Pernambuco e Bahia, não há o que fazer. São praças em que o PMDB do baiano Geddel Vieira Lima e do pernambucano Jarbas Vasconcelos tem ojeriza do PT. Há casos como o do Rio, em que o PT de Lindbergh Farias disputa o governo contra o PMDB de Luiz Fernando Pezão, o nome de Sérgio Cabral. Com boa vontade, fixam-se regras de convivência. Com nariz torcido, nem isso.
Há também, supremo dissenso, Estados em que o PT e o PMDB cogitam ir às urnas de 2014 coligados com o PSDB, não um com o outro. Candidato do PT ao governo do Mato Grosso do Sul, Delcídio Amaral negocia com o tucanato a vaga de vice ou a de senador. No Paraná, a ala majoritária do PMDB move-se para escantear Roberto Requião e emplacar Osmar Serraglio como vice do governador tucano Beto Richa, candidato à reeleição.
Há ainda peculiaridades como a do Maranhão e a do Ceará. Num Estado, um pedaço do PT resiste em manter a rendição ao grupo de José Sarney e flerta com Flávio Dino, do PCdoB. Noutro, após migrar do PSB de Eduardo Campos para o neogovernista Pros, os irmãos Cid e Ciro Gomes reivindicam a adesão do PT ao seu projeto estadual. Candidato do PMDB à sucessão de Cid, Eunício Oliveira faz cara feia e passa a ambicionar o tempo de TV do PSDB.
Até mesmo onde se imaginava que os dois partidos caminhariam juntos, o entendimento ainda é precário. Em Minas Gerais, estava entendido que o PMDB apoiaria o candidato a governador do PT, Fernando Pimentel. Mas ainda há discordâncias quanto à contrapartida.
O petismo mineiro oferece ao PMDB a vaga de senador na chapa de Pimentel. O diabo é que estará em jogo apenas uma cadeira por Estado no Senado. E dá-se de barato que, em Minas, será difícil retirar o assento do atual governador Antonio Anastasia (PSDB).
O que atraiu Lula para a reunião deste sábado foi o risco de o varejão paroquial comprometer a renovação da chapa nacional encabeçada por Dilma e secundada por Temer. O cheiro de queimado aumentou porque a crise tornou-se mais aguda em praças que enviarão o maior número de delegados à convenção nacional do PMDB. É nessa convenção, marcada para junho de 2014, que o PMDB dirá se quer ou não revalidar a parceria com Dilma.
O cheiro de queimado aumentou porque cresceu no PMDB o movimento pela convocação de uma pré-convenção em março de 2014. Para quê? Para dar tempo ao partido de articular um projeto presidencial alternativo caso Dilma se torne uma opção minoritária na legenda. Antes de seguir para a Granja do Torto, o time do PMDB fará um aquecimento no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice Michel Temer.

sábado, 23 de novembro de 2013

PSB recruta Eliana Calmon para tentar atrair Joaquim Barbosa
 
Por Clarissa Oliveira e Wilson Lima - iG São Paulo |
Texto
    Após ofensiva do senador Aécio Neves sobre o presidente do STF, socialistas pedirão à ministra do STJ que lidere o trabalho de convencimento para atraí-lo para a sigla de Eduardo Campos
Preocupado com a aproximação entre o senador mineiro Aécio Neves (PSDB-MG) e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa , o PSB começou a desenhar uma contraofensiva. O partido do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, decidiu escalar a ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Eliana Calmon, para atuar como interlocutora nas negociações com Barbosa e tentar atrair o ministro para a legenda.Conheça a nova home do Último Segundo 
Alan Sampaio / iG Brasília
Primeira mulher no STJ, Eliana Calmon virou ministra da Corte em 1999

O presidente do STF, que se movimenta discretamente de olho na cena eleitoral, sofreu nas últimas semanas um assédio mais intenso por parte do PSDB . Aécio, como revelou o iG , tenta atrair Barbosa para os quadros tucanos, e sonha até mesmo em tê-lo como vice em sua chapa presidencial.
Oficialmente, Aécio nega a ofensiva e diz se tratar de uma “especulação” alimentada pelo PT . Nos bastidores, entretanto, pessoas próximas ao senador mineiro dizem que ele atribuiu ao ex-ministro do STF Carlos Velloso, amigo de Barbosa, a tarefa de fazer o trabalho de convencimento. Daí o plano do PSB de usar Eliana Calmon para tentar afastar Barbosa do tucanato e atraí-lo para o time socialista. Assim como Velloso, a ministra do STJ mantém boa relação com o presidente do Supremo.
O PSB pretende formalizar
a filiação de Eliana Calmon em dezembro , durante o encontro regional que será realizado pelo partido em Salvador. A ministra do STJ e ex-corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) deve se lançar candidata na Bahia. Em tese, a ideia é colocá-la na disputa para o Senado, mas Eduardo Campos deixou aberta a possibilidade de ela optar por concorrer a outro cargo na eleição.
O time mais próximo de Eduardo Campos diz ver poucas chances de Joaquim Barbosa aceitar se lançar candidato já em 2014. Mas, no pior dos cenários, vê a oportunidade de pavimentar uma filiação mais adiante.
Por isso, a ideia é argumentar ao presidente do STF que a opção de aderir ao PSDB se voltaria contra ele. Isso porque o partido está no centro das denúncias do mensalão mineiro. Nas palavras de um líder socialista, Barbosa acabaria “desmoralizado” se aderisse a um partido acusado de envolvimento com o mesmo esquema que originou o mensalão do PT.
O plano desenhado pelo time de Campos se soma a um
endurecimento de toda a estratégia eleitoral adotada em relação a Aécio . Aos poucos, a equipe do governador pernambucano vem abandonando a ideia de um pacto de não agressão ao tucano, ventilada no início dos preparativos da corrida eleitoral como forma de assegurar a realização de um segundo turno na disputa presidencial.
Na avaliação de interlocutores de Campos, a notícia de que Aécio mobilizou o PSDB para atrair Barbosa ajudou a tornar a tensão ainda maior. A movimentação do senador mineiro foi entendida no PSB como uma resposta à aliança firmada entre o governador de Pernambuco e a ex-senadora Marina Silva, com potencial de gerar frutos eleitorais ainda maiores para o tucano.
Prós e contras
Barbosa, segundo interlocutores, tem pesado os prós e contras de se lançar num projeto eleitoral já em 2014. Algumas pessoas próximas ao presidente do STF dizem enxergar como mais provável a ideia de uma candidatura em eleições seguintes. De qualquer forma, a impressão deixada pelo ministro é a de que os planos de entrar para a política estariam cada vez mais consolidados.
Fontes ligadas ao STF ouvidas pelo iG dizem ver um desejo na própria magistratura por uma candidatura de Barbosa já no ano que vem.
Ainda assim, segundo interlocutores de Barbosa, o fato de o julgamento do mensalão ainda estar em curso vem alimentando a resistência do presidente do Supremo, principalmente se considerada a possibilidade de embargos infringentes de alguns réus serem analisados no primeiro semestre do ano que vem.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Pluripartidarismo dos escândalos inibe o discurso ético na campanha de 2014 (Josias de Souza)

AngeliEtica
Há escândalos demais no noticiário. São tantos e tão disseminados que recomendariam a conversão da ética num tema obrigatório da campanha eleitoral. Prevê-se, porém, o oposto. Os comandos dos principais partidos não cogitam, por ora, priorizar o assunto em 2014. Deve-se o fenômeno ao receio de que a disputa se converta numa espécie de gincana dos sujos contra os mal lavados.
Sob o argumento de que o mensalão não impediu a reeleição de Lula em 2006 e a eleição de Dilma Rousseff em 2010, o PSDB do presidenciável Aécio Neves hesita em adicionar a prisão dos mensaleiros petistas ao seu arsenal de marketing. Atrás da tese da inutilidade esconde-se, em verdade, o medo do troco.
Afora o mensalão do tucanato mineiro, ainda pendente de julgamento no STF, o PT estoca em seu paiol dados sobre o derretimento moral do PSDB de São Paulo. No mesmo dia em que José Dirceu e José Genoino se entregavam à PF, descobriu-se que a Justiça da Suíça condenara por lavagem de dinheiro o ex-diretor da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), José Roberto Zaniboni.
Acusado de receber numa conta aberta em banco suíço propinas de R$ 1,84 milhão da Alstom, Zaniboni atuou nos governos tucanos de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. O generalato do PSDB paulista reage à moda Lula: ninguém sabia. Ao caso da Alstom, soma-se a autodenúncia da Simens sobre a formação de cartel para fraudar licitações de trens e metrôs em São Paulo.
Contra o governador tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, o PT empina o nome do ministro Alexandre Padilha (Saúde). O partido equipava-se para esfregar a Alstom e a Siemens na reputação do rival. De repente, estourou no colo do prefeito petista Fernando Haddad o caso da máfia dos fiscais que mastigaram pelo menos R$ 500 milhões da coleta de ISS do município.
Quando Haddad agia para empurrar a encrenca para dentro da biografia do antecessor Gilberto Kassab (PSD), amigo e herdeiro do tucano José Serra na prefeitura paulistana, o nome do secretário de Governo petista Antonio Donato soou com frequência incômoda nos diálogos vadios dos gampos telefônicos e nos depoimentos de fiscais enrolados. Donato recebeu R$ 200 mil, disse a ex-namorada de um fiscal. Ele recebia mesada, depôs um dos investigados, forçando o homem forte de Haddad a renunciar.
O ‘efeito sujo versus mal lavado’ já havia permeado a campanha municipal de 2012. Num debate televisivo ocorrido em 3 de agosto, uma das jornalistas escaladas para inquirir os candidatos alvejou Fernando Haddad com uma pergunta sobre o mensalão e a aliança aética que firmara com o PP do ex-inimigo Paulo Maluf. “Eu e a presidenta Dilma fomos convocados no auge da crise política de 2005 para ocupar cargos importantes”, escorregou Haddad.
Abstendo-se de defender os companheiros, à época presidiários esperando para acontecer, Haddad apresentou-se como parte da solução, não do problema. Sob Lula, Dilma fora convocada para arrumar a Casa Civil que José Dirceu bagunçara. E Haddad assumira na pasta da Educação a cadeira de Tarso Genro, despachado por Lula para a presidência de um PT em chamas. Eis a sua tese: foi tão bem como ministro que Lula enxergou nele um personagem apto a encarnar “a renovação nos ares da política nacional”.
Como Haddad saltara Maluf na sua resposta, a então candidata Soninha Francine, que representava o PPS na disputa, foi fulminantemente breve numa pergunta que lhe coube dirigir ao rival do PT por sorteio: “E o Maluf, Haddad?” O pupilo de Lula defendeu-se apontando para a falta de asseio das outras coligações.
“Não gosto de fulanizar a política”, disse Haddad, antes de dar nome aos bois. “Poderia falar que o Celso Russomanno [aliado ao PTB] é apoiado pelo Roberto Jefferson, que o José Serra [enganchado ao PR] é apoiado por Valdemar Costa Neto. Poderia fazer ilação contra basicamente todo mundo que está aqui. [...] Quem tem que explicar apoio é quem deu. Estou recebendo o apoio do PP.”
Em tese, as fragilidades éticas de PSDB e PT tonificam o projeto presidencial de Eduardo Campos (PSB), já vitaminado pela aliança com Marina Silva. Mas a vitamina é apenas teórica. Campos e Marina eram ministros de Lula quando Roberto Jefferson levou o mensalão às manchetes, em 2005. Não ocorreu a nenhum dos dois tomar distância do governo.
Em 20 de setembro de 2012, quando os ministros do STF impunham as primeiras condenações aos mensaleiros, Eduardo Campos imprimiu suas digitais num manifesto em que o PT acusava a oposição e a mídia de transformar o mensalão num “julgamento político, golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula''. Depois de assinar essa peça, ficou mais complicado para o neoaliado de Marina enrolar-se na bandeira da decência na política.
Candidata ao Planalto pelo PV na sucessão de 2010, a ex-petista Marina foi inquirida sobre o mensalão numa entrevista dada na bancada do Jornal Nacional. Por que não deixou o PT na época do mensalão?
Algo desconcertada, ela disse que não fora conivente nem silenciara. Condenara os malfeitos, mas “não tinha ninguém para me dar audiência e potencializar minha voz''.
Os entrevistadores insistiram: Por que não se demitiu nessa ocasião do Ministério do Meio Ambiente?
Marina tentou desviar-se do tema. Pôs-se a discorrer sobre a falsa dicotomia entre desenvolvimento e preservação ambiental. Chamada de volta ao tema da pergunta, saiu-se assim:
''Eu permaneci e fiquei indignada.''
De resto, o mesmo Eduardo Campos que agora adere à pregação de Marina por uma “nova política”, está a caminho de concluir seu segundo mandato como governador de Pernambuco enganchado a um conclomerado partidário de 14 siglas. A aliança inclui legendas como o PR do deputado pernambucano Inocêncio Oliveira e o PP do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti.
Inocêncio, um ex-pefelê que se alojou no PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto, carrega na biografia o uso do Departamento Nacional de Obras contra a Seca, o Dnocs, para cavar poços em dois empreendimentos de sua propriedade – uma clínica médica e uma revendedora  de motocicletas.
Severino, outro ex-pefelê, esse alojado no PP de Paulo Maluf, teve de renunciar ao mandato de deputado federal quando se descobriu que cobrava ‘mensalinho’ de um concessionário de restaurante na Câmara. Hoje, para adensar seu tempo de propaganda na tevê, Campos cobiça o apoio do PDT de Carlos Lupi, uma legenda que converteu o Ministério do Trabalho em ninho de ONGs desonestas.
Após varrer Lupi do ministério na pseudofaxina de 2011, Dilma também disputa o apoio do PDT. Nesta semana, a recandidata receberá a adesão do PSD de Kassab. O mesmo Kassab que, em São Paulo, o petista Haddad acusa de ter conduzido a prefeitura à desordem.
Na última quarta-feira, ao votar na sessão em que o STF decidiu deflagrar a execução das penas do mensalão, o ministro Luís Roberto Barroso fez uma alusão à atmosfera conspurcada. “No tocante à política, os fatos se apressaram em confirmar o que eu disse no primeiro dia de julgamento dos embargos de declaração: a corrupção não tem partidos e é um mal em si.”
Barroso prosseguiu: “Nesses poucos meses, explodiram escândalos em um Ministério (as ONGs da pasta do Trabalho, sob o PDT), em um importante Estado da Federação (o cartel da Siemens e as propinas da Alstom, sob o PSDB paulista) e em uma importante prefeitura municipal (a máfia dos fiscais paulistanos, sob PT e PSD). A mistura é a de sempre: uma fatia para o bolso e outra para o financiamento eleitoral.”
Difícil discordar de Barroso nesse ponto. O pior é que o eleitor que for buscar no discurso dos partidos os parâmetros éticos para tomar suas decisões em 2014 arrisca-se a tirar confusões por contra própria.

sábado, 9 de novembro de 2013

Campos superar Aécio 'não seria tragédia', diz FHC

Ex-presidente, porém, ressalta acreditar em senador mineiro e diz que governador precisa 'se encorpar' para haver 2º turno

08 de novembro de 2013 | 21h 14
Gabriel Manzano - O Estado de S. Paulo

São Paulo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta sexta-feira, 8, que "não será nenhuma tragédia" se, nas eleições presidenciais do ano que vem, o PSB tomar o lugar do PSDB na disputa de um eventual segundo turno com a presidente Dilma Rousseff, atualmente a grande favorita da disputa. "Não acredito nessa possibilidade, mas se ela ocorrer não será nenhuma tragédia", afirmou FHC. "O que eu acho é que temos de ter alternância no poder. O PT está há muito tempo no poder". Veja também:
link Para Serra, PSDB sofre de 'bovarismo'
link Aécio contraria tucanos de SP ao defender Zona Franca
link Após críticas de Campos, Dilma faz defesa à sua 'visão de governo'
Mas FHC advertiu que o governador Eduardo Campos, provável nome do PSB em 2014, "tem que se encorpar", porque "se ele não encorpar, não teremos segundo turno". A avaliação foi feita em entrevista ao blog do jornalista Kennedy Alencar. Mas o ex-presidente deixou claro, na conversa, que não acredita nessa possibilidade - a de o provável candidato tucano, Aécio Neves, vir a ser superado nas urnas pelo governador pernambucano. Segundo ele, Aécio "tem mais condições, porque a organização do PSDB é maior". Ele mencionou, então, os Estados de São Paulo, Minas, Paraná, que têm um grande eleitorado, e o Pará. "O Aécio tem um enorme apoio em Minas, enquanto o Eduardo só tem Pernambuco", completou. No cenário eleitoral por ele traçado, o apoio da ex-senadora Marina Silva "vai ajudar, e é bom que ajude mesmo" a fortalecer a candidatura de Campos. Mas o ex-presidente preferia mesmo, segundo observou, que houvesse quatro candidatos fortes na disputa - ou seja, que Marina tivesse conseguido registrar a sua Rede Sustentabilidade. "Tinha que ter quatro candidatos. Agora é mais complicado". FHC justificou sua decisão de apoiar o nome de Aécio - e não o do ex-governador José Serra - pela necessidade de renovação. "Há um momento em que precisa renovar. O Serra é um quadro muito capaz, votei nele a vida inteira, mas é o momento de Aécio". Recorreu ao exemplo de seu sucessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que depois de lançar Dilma à presidência indicou Fernando Haddad na disputa pela prefeitura de São Paulo e agora recorre ao ministro Alexandre Padilha para disputar o governo paulista. "Hoje há uma fadiga de material, um certo cansaço. O Lula percebeu isso, tentou colocar candidatos novos". Candidatura. Mas Fernando Henrique não defendeu como indispensável o lançamento antecipado da candidatura - uma questão que veio à tona, dentro do PSDB, depois de Serra ter defendido a ideia de se aguardar até março de 2014 para a definição do nome tucano. "Na verdade, já estamos em disputa", definiu o ex-presidente. "Dilma já tem uma agenda de candidato. No cargo, tem uma enorme vantagem e temos que contrabalançar isso, o mais cedo possível". Ele não considera indispensável "lançar necessariamente a candidatura", mas "atuar como candidato". Não há "necessidade de lançamento formal", completou. Provocado a definir qual é a marca do governo Dilma, falou em "produtivismo, uma volta ao governo (Ernesto) Geisel: produzir, crescer. Mas não está crescendo. Então a marca é da frustração." Tapando buraco. FHC também descartou a acusação de que haja uma campanha da oposição, do mercado e da mídia a respeito da situação fiscal do País. Para ele, a situação não está "fora do controle", mas há "sinais graves de que (o governo) está perdendo a rigidez fiscal". "Não há uma coisa caótica", avisou, "mas dá a impressão de que o governo está tapando buraco". FHC queixou-se, também, da "falta de generosidade" do ex-presidente Lula, que, segundo ele, não reconhece ações positivas de seu governo. "Falta um pouquinho de generosidade e reconhecer as coisas. Eu reconheço o que ele fez de bom, mas o Lula não consegue".

Tópicos: FHC, Eleições, Aécio

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Marina sai de férias após embate com Lula e Dilma

RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA

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Após trocar críticas pela imprensa com a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-senadora Marina Silva saiu em "férias" de 10 dias, segundo seus aliados.

Ontem, ela participou de parte da reunião da Executiva da Rede --partido ainda em fase de montagem--, em Brasília, mas não quis falar com a imprensa justamente sob o argumento de que sua presença lá representava apenas uma "exceção" em seu período de descanso.

No encontro, a direção da Rede debateu formas de conduzir daqui em diante a criação de um programa conjunto com o PSB do governador Eduardo Campos (PE), cujo projeto presidencial teve a adesão da ex-senadora.

Dirigentes dos dois partidos devem se encontrar nos próximos dias para elaborar um cronograma.

Segundo seus assessores, Marina abrirá uma segunda "exceção" em suas férias no sábado para participar de encontro regional da Rede em São Paulo.

Nas últimas semanas, Marina, Dilma e Lula têm trocado críticas sobre assuntos econômicos.

No mês passado, Dilma rebateu críticas de Marina segundo as quais o governo estaria afrouxando os princípios para manter a estabilidade econômica do país.

Depois foi a vez de Lula afirmar que sua ex-ministra do Meio Ambiente tem tomado lições erradas na área econômica.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Estratégia regional afasta Campos e Marina
NATUZA NERY
RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA


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Apesar do discurso público de sintonia, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) e a ex-senadora Marina Silva divergiram a portas fechadas sobre a estratégia regional da aliança, selada há um mês.

A discordância ocorreu em um encontro há uma semana, véspera do ato em que PSB e Rede Sustentabilidade, o partido de Marina, começaram a discutir as bases para construir um programa único das duas forças políticas.

De acordo com relato feitos à Folha por participantes da reunião, realizada na casa do deputado federal Walter Feldman, em São Paulo, a ex-senadora defendeu que PSB e Rede lançassem candidatos próprios e com capacidade de gerar "fato novo" em Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Campos, porém, lembrou que o PSB já vinha articulando outros caminhos nesses Estados, e que não tinha condições políticas de passar por cima de seus acordos.

Segundo relatos, Campos disse a Marina que o havia encontrado "vivo" após não conseguir montar a Rede a tempo de disputar a eleição porque ele tem aliados fiéis.

Alguns dos presentes relataram à Folha que a ex-senadora disse compreender as razões do neoaliado. Ambos, então, combinaram deixar a definição sobre candidaturas nos Estados para 2014.

O principal foco de divergência diz respeito a São Paulo, onde o deputado federal Márcio França (PSB), um dos escudeiros de Campos, trabalha para que a legenda mantenha o apoio à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e, assim, ele assuma a vaga de vice na chapa.

Apesar da reação firme à proposta feita por Marina no encontro, Campos não descartou a possibilidade de mudar de rota eventualmente.

A interlocutores, ele tem dito que pode precisar de França para coordenar sua campanha presidencial e diz que uma candidatura a vice no Estado, como é cogitado, o tiraria do foco nacional.

Internamente, Marina tem defendido o nome de Feldman, um de seus principais aliados na montagem da Rede, como candidato em São Paulo, o que não agrada ao outro lado da aliança.

A defesa de Marina por "fatos novos" nas candidaturas regionais tem como embrião o encontro em que ela e Campos selaram a aliança.

Na conversa decisiva, os dois acertaram, segundo aliados da ex-senadora, trabalhar para ter candidatos próprios. Como a Folha mostrou no último dia 18, porém, até agora só em Goiás o PSB alterou a rota que trilhava.

sábado, 2 de novembro de 2013

Se Aécio for o candidato do PSDB, vou trabalhar
por ele, diz Serra
FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA


 
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Embora ainda se apresente como pré-candidato a presidente pelo PSDB, José Serra faz agora uma inflexão no seu discurso. Diz que vai trabalhar a favor da unidade do partido, "com quem for o candidato", ele ou o senador tucano Aécio Neves, de Minas Gerais.

José Serra no Poder e Política - 12 vídeos
























"É a minha grande aspiração, que o PSDB esteja unido. Com quem for o candidato. Trabalharei para isso, não tenha dúvida", afirmou em entrevista ao programa Poder e Política, da Folha e do UOL. Mas fará campanha, de maneira incessante, a favor de Aécio Neves? "Farei, farei, trabalharei para que a haja unidade, primeiro. E segundo, havendo unidade, para que a unidade se projete na campanha".

A declaração de Serra, é claro, pode ser interpretada com ressalvas. Por exemplo, quando ele diz que trabalhará pelo mineiro "havendo unidade". Adversários podem enxergar insinceridade no apoio prometido a Aécio. Mas o tucano também poderia ter tergiversado quando indagado sobre se faria campanha para o colega mineiro. Preferiu ser direto.

Trata-se de uma mudança em relação ao tom quase beligerante das últimas semanas, quando o tucano paulista passou a viajar pelo país para se apresentar como uma alternativa ao nome de Aécio, hoje o favorito para conquistar no PSDB a vaga de candidato a presidente em 2014.

E quem seria mais de esquerda, Serra, 71 anos, ou Aécio, 53 anos? O paulista reagiu dizendo que a pergunta era "engraçada". Sorriu e explicou que a trajetória de vida dos dois é muito diferente: "Não dá para comparar banana com laranja". Mas ele estaria à direita ou à esquerda do mineiro? "À direita, não estou", respondeu. Ao final, afirmou que ambos são "progressistas".

Sobre o prazo para definição, Serra é ambíguo. Há um acordo entre ele e Aécio para que o nome do candidato a presidente pelo PSDB seja anunciado em março. O paulista, entretanto, introduz um reparo: "A partir de março". Depois, é evasivo: "Se se achar que não tenha, que não há condições de maturidade para se tomar uma decisão...". Dá a entender que gostaria de estender ao máximo essa tomada de posição dentro do PSDB.

A seguir, trechos da entrevista:

*

Folha/UOL - O governo federal realizou recentemente o leilão para a partilha do campo de Libra, do pré-sal. Aécio Neves fez críticas ao modelo adotado. Disse que seria preciso reestatizar a Petrobras. O sr. concorda?
José Serra - O primeiro defeito dessa exploração do campo de Libra foi a demora. Demorou e o Brasil vai acumulando déficit de petróleo com a Petrobras em situação dificílima.
Segundo, a coisa foi mal equacionada. Não houve leilão. Só tinha um concorrente. Houve uma organização de cartel. O governo trabalhou para montar um grupo que explorasse o petróleo, inclusive sinalizando os nomes daqueles que iriam ocupar a Petrosal, que é a empresa que vai administrar o conjunto do processo mesmo não tendo nenhum capital.

Houve um cartel?
Claramente. Inclusive para que entrassem estrangeiros, como a Total e a Shell. O que aconteceu ali foi que foram anunciados os nomes dos diretores da Petrosal. Para convencer os investidores estrangeiros que seriam pessoas de confiança deles.
A mudança do processo de concessão para o processo de partilha foi desnecessária. Foi feita no bojo da campanha de 2010, para dar uma ideia de que haveria uma política mais nacionalista. Tanto a concessão quanto a partilha são métodos ideologicamente parecidos. Na verdade, deram nó em pingo d'água. Nesse aspecto, o Aécio tem razão.

Há no Senado um projeto propondo autonomia completa para o Banco Central. Qual é a sua posição?
Sou contra. O Banco Central já tem, na prática, autonomia operacional. Se você torna o presidente do BC imune, passa a ser um outro poder. Se ele tiver um mau desempenho, o processo de retirar é muito complexo. Vai desestabilizar a economia. O Fernando Henrique não pensa diferente. Tenho a impressão que o Aécio [Neves] também não pensa diferente, nem o Aloysio Nunes [Ferreira].

O ex-presidente Lula fez críticas a Marina Silva por ela ter reconhecido o papel do ex-presidente Fernando Henrique na estabilização da economia do país. É tática eleitoral?
Sem dúvida, sem dúvida.

Lula e o PT têm sido exitosos com essa tática em várias eleições. Por que eles conseguem que essa ideia prevaleça?
Porque são bons nesse ramo. No ramo de marketing o PT é bom e o PSDB não é bom. Outras forças de oposição também não são. É uma questão de saber deslocar o eixo das discussões para onde eles querem deslocar.

Mas é só marketing?
Você quer um exemplo? Fome Zero. Fome Zero nunca existiu. Se você fizer uma pesquisa hoje e for avaliar o Fome Zero, a avaliação é positiva. Ou seja, tem um clima que favorece isso. Agora, em grande medida é marketing. Lembro que nos primeiros anos de administração do Lula, ele se dedicou na política econômica a acalmar o sistema financeiro. Aliás, o sistema financeiro nunca ganhou tanto dinheiro na história quanto na administração petista. Isso diz o Lula, diz todo mundo. Evidentemente não é isso que eles ostentam durante uma campanha eleitoral.

Mas o sr. disse "eles são bons de marketing, tiveram êxito..."
E a oposição não é. E eu me incluo nisso.

O sr. está traçando um futuro plúmbeo para a oposição...
A oposição tem que aprender. A oposição tem que ter um programa correto. Tem que saber apresentar, tem que saber sair das esparrelas. E, por outro lado, eu acredito que esse modelo publicitário está se esgotando.

Será?
O que aconteceu nas ruas [em junho] tem algum lado de insatisfação com esse "publicitarismo". Grandes anúncios que não dão em nada. Se você for ver hoje a aprovação do governo Dilma vis-à-vis o grau de exibição que ela tem na mídia livre e na mídia oficial, há uma diferença grande entre a intensidade e o resultado que na prática se obtém.

O sr. vai disputar a indicação para ser o candidato a presidente pelo PSDB?
O PSDB, por acordo, ficou de decidir isso mais adiante. Em março, a partir de março do ano que vem. Tenho seguido um pouco essa decisão. Aí nós vamos ver qual é a situação.
O que eu vou fazer sempre é: me alinhar na perspectiva de fortalecer a oposição para que possa ser uma alternativa de poder no Brasil. O que eu fizer vai estar subordinado a esse critério. E fá-lo-ei, digamos, dentro do PSDB.

O sr. quase saiu do PSDB?
Era uma hipótese. Mas concluí minha análise achando que eu posso contribuir mais dentro do PSDB.

Há um acordo no PSDB sobre como definir o candidato a presidente. Quais serão os critérios?
As circunstâncias. As outras candidaturas. Hoje, nenhum partido definiu de fato. O que aconteceu com [a aliança entre] Marina Silva e Eduardo Campos era inteiramente imprevisível. O imprevisível tem um papel importante.

Em março, o desempenho em pesquisas será relevante?
Sempre é. Embora tenha que se fazer ponderações. Por exemplo, é normal que, tanto o nome da Marina quanto o meu tenha um nível mais alto que os outros, porque disputamos eleição presidencial.
Em princípio isso não é um fator decisivo. Os outros candidatos podem crescer.

Como deve ser o processo de decisão?
Terá que haver conversas entre dirigentes. Auscultar o partido. O processo não é muito definido. Formalmente, a convenção é em junho. Pela lei, é em junho.

Mas e em março?
Em março, a partir de março, se se achar que não tenha condições de maturidade para se tomar uma decisão... Veja, a ideia de março, inclusive, veio do Aécio. É uma ideia que foi colocada e me pareceu razoável. Em março a gente para e olha.

É possível uma chapa presidencial do PSDB composta com Aécio Neves e José Serra?
Nós não temos candidato ainda. Imagine escolher vice, a esta altura. Sobretudo, decidir que vice é do PSDB, é chapa pura, sem ter o quadro dos aliados já definido. Parece muito prematuro.

Prematuro e improvável ou só prematuro?
Hoje, parece pouco provável uma vez que você tem que ter os aliados definidos. Mas já tendo o esquema montado é uma questão que pode ser analisada. Mas é bem posterior. Primeiro, você tem que ter um candidato definido, depois um quadro de alianças definido. Enfim, falta coisa pela frente.

Se Aécio Neves for o candidato a presidente, o PSDB e o sr. estarão unidos em torno dele?
É a minha grande aspiração, que o PSDB esteja unido. Com quem for o candidato. E eu trabalharei para isso, não tenha dúvida.

O sr. fará campanha, de maneira incessante, a favor de Aécio Neves?
Farei, farei. Trabalharei para que a haja unidade, primeiro. E segundo, havendo unidade, para que a unidade se projete na campanha, sem dúvida nenhuma.

O sr. acha que Aécio Neves fez campanha para o sr. com a intensidade que deveria ter feito em 2010?
Ele fez campanha me apoiando e segundo a estratégia que eles adotaram em Minas Gerais, inclusive no segundo turno.

Qual estratégia?
De ganhar eleição no governo estadual. Isso sempre é um fator que se impõe. Para deixar bem claro: eu não perdi a eleição porque podia ter tido mais votos em Minas. A derrota em 2010 foi porque tudo crescia 10% -a massa de salários, o crédito ao consumo. Foi um período de euforia, com o governo Lula lá nas nuvens de avaliação.

Qual dos dois, Aécio Neves ou José Serra, estaria mais à esquerda hoje?
[Risos] Engraçada a pergunta. Acho que categoria esquerda-direita já é meio batida.

O sr. está à esquerda ou à direita de Aécio?
À direita, não estou.

À esquerda?
Depende do ângulo que se olhe. Tenho uma biografia de militância de esquerda longa. São histórias diferentes, difíceis de comparar. Não dá para comparar banana com laranja, digamos. São formações diferentes, perfis diferentes, personalidades diferentes. É muito difícil. Acho que ambos somos, para usar um termo genérico, progressistas.

Se a eleição afunilar entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, alguns tucanos dizem: "Serra ficará com Dilma"...
[risos] É brincadeira, né? É tão provável quanto esse seu iPad sair voando, batendo asas aqui no estúdio.

Não tem chance?
Não.

Se não for candidato a presidente, o que pretende fazer? Disputar uma vaga ao Senado é uma possibilidade?
Tem diversas possibilidades. Não me detive a analisar nenhuma. É um problema metodológico: se não vou resolver, não fico dando volta na cabeça com isso.

Há possibilidade de não haver nenhum representante de São Paulo com chance de ser presidente da República...
Desde 1950, a última vez que São Paulo não teve um candidato a presidente.

É motivo de desalento para São Paulo?
Não creio. Primeiro não sabemos o que vai acontecer de fato. Segundo, São Paulo não é um Estado que tenha um espírito muito regionalista. Não há 'pátria paulista'.

O ex-presidente Lula ainda pode vir a ser candidato a presidente, em 2014?
Parece-me que sim. Quando você pega avaliações de governo, em geral não dá uma diferença grande entre a taxa de aprovação e desaprovação [para o governo Dilma]. E acima de tudo, qualquer pesquisa, de qualquer instituto, mostra também "desejo de mudança".
Em 2010, eu estava muito à frente das pesquisas. No entanto, as próprias pesquisas diziam que o pessoal não queria mudar muito. Aquele era um indicador de que a disputa ia ser acirrada.
Agora, o indicador de que a disputa vai ser acirrada é o fato de que o pessoal quer mudança.

Por que Lula poderia substituir Dilma?
Acho que o PT não quer perder o poder de jeito nenhum. Nenhum partido quer. Mas para o PT é muito especial. Sabe por quê? Porque eles se misturaram com o poder. O PT se apossou do governo e deixou uma parte para os aliados. Toda a máquina hoje está confundida com o governo. Para eles é uma questão de sobrevivência. Eles vão fazer tudo para ganhar. Se os dados apontarem que Dilma eventualmente não seria capaz de ganhar no primeiro turno, acho que o PT não vai correr o risco. Um segundo turno para ela é arriscadíssimo.

Mas o PT ganhou outras eleições no segundo turno...
Era diferente. O quadro nacional era outro. O desejo de mudança era praticamente nenhum, pequeno. O quadro da economia era eufórico. Não acho que a economia vá afundar no ano que vem. Vai continuar esse desempenho medíocre. O quadro é outro, e o desejo de mudança é grande.

Quem é mais competitivo: Eduardo Campos ou Marina Silva?
Hoje, seria a Marina, do ponto de vista da análise política, se você for pegar a pesquisa.

Ela poderia ter para Eduardo Campos o mesmo papel que teve Lula para Dilma?
São características muito diferentes. A Marina é uma pregadora introvertida. O Lula é um pregador extrovertido. Francamente, não creio que se coloque aí um paralelo.

O sr. tem uma taxa de rejeição alta. Perdeu a eleição para prefeito em São Paulo. Esses elementos o impedem de ser o escolhido do PSDB?
A questão de rejeição eu acho normal. Disputei uma eleição nacional. Sofri muitos ataques de toda a máquina petista. Quem é preferencialmente eleitor do PT me conhece e diz: 'O Serra, não. Ele é opositor nosso'. É uma coisa mais consistente. Não creio que essa coisa de rejeição seja algo assim tão forte e absoluto. É previsível. Da mesma maneira que tenho mais preferência que os outros também tenho mais rejeição, pelo fato de ser mais conhecido e ter tido embates duríssimos nessa.

O sr. considera então que taxa de rejeição é algo reversível durante uma campanha?
Em tese sim, seria.

Houve recentemente um caso rumoroso sobre o metrô de São Paulo. Um e-mail da empresa Siemens, indica que o sr. teria sugerido um acordo em uma licitação da CPTM para evitar disputa judiciais que atrasariam a entrega dos trens. O sr. acha correto um governador interferir em uma licitação para abaixar os preços ou acelerar o prazo?
Não. Aí o que houve foi outra coisa. Eu atuei contra o cartel porque ganhou uma empresa com um preço mais baixo e as que ganharam com um preço mais alto queriam derrubar a primeira empresa que ganhou com preço baixo. Eu disse: 'Se derrubarem, se forem para Justiça e derrubarem, eu refaço a concorrência. Eu não vou dar para o segundo colocado'. Foi uma posição anticartel.

Mas isso não poderia ser interpretado como advocacia administrativa, porque o seu interesse, como governador, estaria acima da comissão de licitação?
Não. Estava defendendo os preços mais baixos. Tem um cartel que quer forçar aumentar preços? Faço a concorrência de novo. Nada demais. Você tem uma concorrência, alguém ganha com preço baixo. Os que tiveram preço mais alto querem derrubar aqueles que ganharam com preço baixo. Não tenho como impedir que vão à Justiça. Se ganharem e derrubarem o primeiro [colocado], não darei para o preço mais alto. Farei nova licitação, com os preços baixos antes aprovados. Ou seja, estou defendendo os cofres públicos e enfrentando o cartel, não o contrário.

O presidente da CPTM no seu governo, Sérgio Avelleda, é réu numa ação sobre uma acusação de ter restringido a competição em um contrato para manutenção das linhas. Segundo o edital, 73 empresas teriam feito consultas à CPTM sobre a licitação. No final, só 3 delas acabaram participando. Nesse caso, não houve um estímulo ao cartel?
Não acompanhei todas as licitações havidas em meu governo. Foram centenas, milhares. O que posso dizer é que o Sérgio Avelleda tem a imagem de homem correto e de um bom administrador. Foi posto na CPTM. Foi um bom presidente. Sobre esse caso, ele pode perfeitamente explicar. Eu particularmente não conheço isso.

João Roberto Zaniboni é um ex-diretor da CPTM acusado de receber propina de R$ 1,8 milhão da Alston. Era uma pessoa que o sr. conhecia na administração?
Não. Acho que ele trabalhou no período [Mário] Covas, se não me engano. Nunca ouvi falar. Nem trabalhou no meu governo, pelo que soube.

Outro tema: manifestações violentas de rua. Os governos, com suas forças de segurança, têm sido demasiadamente lenientes com esses manifestantes violentos?
Não dá para escolher entre um e outro. Tem sido um processo de aprendizado.
Fui líder estudantil de um tempo muito agitado no Brasil. Era presidente da UNE numa época que se lutava bastante. Nunca vi nada parecido, nem do nosso lado nem do lado da direita, com marcha da família etc. Nunca vi nada tão volumoso e generalizado no Brasil.
Foi uma coisa nova, não tinha acontecido antes. Ontem, estava com os meus netos. Às 8h, eu ia embora. Tinha um compromisso e falei: 'Vou embora'. A minha neta, que tem 6 anos, virou para mim e falou: 'Você vai numa manifestação?'. Você veja, que coisa nova. Meu neto mais novo, de 4 anos, diz "eu já vi uma manifestação". Ou seja, é algo até que já entrou no vocabulário das criancinhas. É um fenômeno diferente.

Mas elas estão aí já há quase 4 meses...
E pegou de surpresa. Acho que pouco a pouco tem que se desenvolver um esquema que reprima a desordem, que é diferente de manifestação. Quebra-quebra, quebra de patrimônio público...

Entendo que seja uma coisa nova. Mas são cerca de 4 meses já. São Estados importantes: Rio de Janeiro e São Paulo. Já não houve tempo suficiente para que seja desenvolvida uma tecnologia para proteger quem quer se manifestar de maneira pacífica e reprimir aqueles que não querem?
Não é uma tecnologia simples. Você lida com gente, com pessoas. Você sabe que a chance de pegar, entre aspas, inocentes, no lugar de desordeiros, é muito grande. Acredito que pouco a pouco a polícia já está fazendo isso e vai fazer.

Tem algo que deveria ter feito e não fez?
Sabe o que tem que fazer? Ir identificando quem são. Porque você tem fotos, filmes etc.
Você deve ter grupo de extrema-direita, grupo de extrema-esquerda, você tem de tudo aí no meio. Acho que isso demanda uma tecnologia mais refinada.

Não tem como fazer mais rápido?
De fora, pode parecer lento, mas de dentro talvez seja muito difícil fazer mais depressa.

Acesse a transcrição completa da entrevista

A seguir, os vídeos da entrevista (rodam em smartphones e tablets):

1) Principais trechos da entrevista com José Serra (5:53);

2) Se o candidato for Aécio, vou trabalhar por ele, diz Serra (1:05);

3) Não se compara banana com laranja, diz Serra sobre ele e Aécio (1:29);

4) Serra: Escolha do nome do PSDB pode ficar para depois de março (0:41);

5) PT é bom de marketing; PSDB, não, diz Serra (2:32);

6) Rejeição é reversível, não é absoluta, afirma Serra (1:15);

7) Em Libra não houve leilão, foi cartel, diz Serra (1:40);

8) PT ainda pode trocar Dilma por Lula, diz Serra (2:33);

9) Quando governador, atuei contra cartel dos trens, diz Serra (2:39);

10) Sou contra autonomia completa para Banco Central, diz Serra (1:05);

11) Quem é José Serra? (1:46);

12) Íntegra da entrevista com José Serra (65 min.);

José Serra no Poder e Política

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Sergio Lima/Folhapress
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José Serra durante entrevista ao Poder e Política no estúdio do Grupo Folha em Brasília

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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Serra ajuda a aproximar PPS de Campos


Estratégia do tucano é tentar enfraquecer Aécio, seu adversário interno no PSDB; oficialmente, candidato tucano será definido em março


01 de novembro de 2013 | 2h 11
         
      
João Domingos / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) orientou o presidente do PPS, deputado Roberto Freire, seu antigo aliado, a se aproximar do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos.

Segundo integrantes do PSDB e do PPS, Serra se reuniu na semana passada com Freire em São Paulo, quando o incentivou a "seguir em frente" nas negociações com Campos, provável candidato à Presidência da República na eleição de 2014.
Dias depois, na sexta-feira, foi a vez de Freire se encontrar com Campos para discutir um eventual apoio do PPS ao PSB.
Serra ainda nutre expectativa de conseguir se candidatar ao Planalto no ano que vem. Para isso, tenta enfraquecer o polo político do senador mineiro Aécio Neves, seu correligionário e adversário interno. Aécio, hoje, tem apoio de praticamente todo o tucanato para se lançar à Presidência no ano que vem.
Oficialmente, tanto Serra quanto Aécio dizem que a escolha do candidato do PSDB ao Planalto ocorrerá só em março.
Indagado pelo Estado sobre sua ajuda na aproximação do PPS com o PSB, Serra afirmou se tratar de "pura intriga".
Viagens. O ex-governador paulista tem viajado pelo Brasil e agido como se estivesse em campanha. Alguns aecistas veem com ressalvas a atitude de Serra e falam até na possibilidade de o senador antecipar o lançamento oficial de sua candidatura. Aécio, porém, reluta em fazer isso, lembrando que ao fechar o trato com Serra sobre a decisão, em março, o fez na condição de presidente do partido.
Da parte do PPS, a decisão sobre quem o partido vai apoiar só será tomada no congresso da sigla, marcado para ocorrer entre os dias 6 e 8 de dezembro.
"Vamos tomar uma decisão nesse congresso sobre quem vamos apoiar ou se vamos ter candidatura própria", disse Freire.
Há três correntes no partido. A liderada por Freire é majoritária: defende a aliança com Campos. Outra, que tem à frente os diretórios regionais de Minas Gerais e São Paulo, quer se coligar com Aécio; uma terceira, integrada pelo líder do partido, Rubens Bueno (PR), e pelo ex-deputado Raul Jungmann (PE), defende candidatura própria, com Soninha Francine.
O PPS tem um minuto e dez segundos de tempo de propaganda de TV - o Tribunal Superior Eleitoral ainda fará alguns ajustes, dependendo das coligações. Como Campos precisa do máximo de partidos para integrar sua coligação, e o tempo do PSB deverá ser de cerca de três minutos, a coligação com o partido de Freire é prioritária.
Por ter se originado do velho Partido Comunista Brasileiro (PCB), o PPS tem relativa influência em sindicatos e em movimentos populares, mas afastou-se do movimento estudantil e deu espaço para o PC do B nesse meio, porque se alinhou mais ao centro. No congresso que fará em dezembro, deverá mudar para posições mais à esquerda, na tentativa de recuperar espaço. O partido apoiou Lula em 2002, mas deixou o governo em 2004. Desde então, apoiou o PSDB nas disputas presidenciais.
            

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    Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.