quarta-feira, 28 de março de 2012


DEM vê naufragar o projeto ‘Demóstenes-2014 (Josias de Souza)


DEM vê naufragar o projeto ‘Demóstenes-2014’

Em 6 de dezembro de 2011, discursando numa convenção do DEM, Demóstenes Torres soou como candidato a 2014. O partido “não pode mais ser coadjuvante”, disse, dirigindo-se a uma platéia que sonha com o dia em que se desacoplará do PSDB. “É melhor ser cabeça de cachorro do que rabo de leão.”
O colega Jayme Campos, senador pelo Mato Grosso, enxergou na calva do colega uma juba invisível: “Vamos saudar nosso candidato a presidente, Demóstenes Torres.” Seguiram-se aplausos efusivos. Decorridos três escassos meses, Demóstenes parece mais próximo da renúncia ao Senado. Um cacique do DEM que ajudou a engrossar as palmas lamentava, na noite passada: “Nossa aposta virou cachorro morto.”
Um momento crucial das biografias é o encontro do homem com seu erro. Demóstenes avistou-se com o erro, constatam todos os que o conhecem –ou imaginavam conhecer— no instante em que aproximou sua biografia à folha corrida do contraventor Carlinhos Cachoeira.
Se a atuação de Demóstenes no Senado ensinou alguma coisa, é a não esperar qualquer tipo de intenção altruísta de personagens como Cachoeira. Quando se achegam a pessoas influentes, não buscam amizade, mas o intercâmbio de favores que lhes facilitem a sobrevivência.
Em conversa com um amigo, José Agripino Maia, o presidente do DEM, lamentou: “Abriu-se um abismo entre o discurso do Demóstenes e a prática” insinuada nas páginas dos documentos da Polícia Federal.
Outra voz influente do partido espanta-se com o abatimento de Demóstenes. “Nas conversas conosco, ele não consegue passar segurança em relação ao que está por vir”. Pedro Taques (PDT-MT), um senador que tocava na banda de Demóstenes, choca-se com o já visto: “É muito grave”.
Demóstenes não possui estatura avantajada. Antes atarracado, ganhou aparência franzina depois de um regime seguido de cirurgia. Agigantava-se, porém, no meio de um Senado majoritariamente composto de pequenos homens.
Batizado com nome de orador grego (Δημοσθένης, na grafia original), Demóstenes esbanjava eloquência de linguagem. Afigurava-se tão dotado de valores morais e princípios éticos que deixava antever um roteiro inevitável.
Assim como a primavera se sucede ao inverno e o verão vem depois da primavera, assim também a carreira política do advogado Demóstenes –ex-delegado de polícia, ex-secretário de Segurança de Goiás e promotor de Justiça licenciado— o conduziria às mais altas funções da República.
Foi então que se descobriu que o senador já se havia encontrado com seu erro. Não foi nenhum golpe de azar. Carlinhos Cachoeira tornara-se nacionalmente conhecido em 2004. Aparecera em vídeo oferecendo propina a Waldomiro Diniz, protagonista do primeiro escândalo da Era Lula.
No campo jurídico, ensina o colega Pedro Taques, ex-procurador da República, Demóstenes é credor do beneficío da dúvida e do direito ao contraditório. Porém, no universo da política, a simples proximidade com Cachoeira, por inqualificável, tornou-se fácil de qualificar.
A coisa pareceu impensável quando se descobriu que o senador recebera do contraventor uma geladeira e um fogão importados. Da tribuna, Demóstenes admitiu, em discurso de 6 de março, a amizade tóxica. Disse que as peças de cozinha foram presentes de casamento. A “boa educação” o impedira de recusar.
Do impensável, foi-se ao inacreditável. O senador reconheceu dias depois que se comunicava com o malfeitor por meio de um aparelho de rádio antigrampo habilitado em Miami. Espanto, pasmo, estupefação! Que conversas teria alguém com nome de orador grego com um Cachoeira cuja atividade é uma cascata de ilegalidades?
Prevalecendo sobre o equipamento, a Polícia Federal escutou três centenas de diálogos. Do inacreditável, evoluiu-se para o inaceitável. Relatório policial enviado à Procuradria-Geral da República em setembro de 2009 informou que a voz de Demóstenes soou num grampo pedindo a Cachoeira R$ 3 mil para pagar uma fatura de táxi aéreo.
Senadores que haviam se solidarizado com Demóstenes no discurso da geladeira e do fogão passaram a cobrar dele um comportamento de Demóstenes. Exigiram novas explicações. Agripino apressou-se em expressar o “incômodo” que a “dúvida” instila no DEM.
Nesta terça (27), exilado em seu gabinete, um Demóstenes silencioso falou por escrito. Redigiu dois ofícios. Num, informou a Agripino sua decisão de renunciar à liderança do DEM. Noutro, esclareceu a José Sarney, presidente do Senado, que só voltará à tribuna depois de conhecer o inteiro teor das acusações que o espreitam.
O político celebrado como “candidato a presidente” na convenção de dezembro tornou-se pré-candidato a réu. Com atraso de dois anos e meio, o procurador-geral da República Roberto Gurgel requereu ao STF a abertura de inquérito contra Demóstenes e outros políticos pilhados nas escutas da PF.
Demóstenes, o promotor, sabe que tudo o que for dito agora por Demóstenes, o senador, poderá ser usado num futuro próximo contra Demóstenes, o potencial denunciado. Por isso, o orador loquaz dá lugar ao advogado cauteloso.
Considerando-se os dois campos esboçados pelo ex-procurador Pedro Taques –o mundo dos tribunais e o universo do Legislativo— a nova tática de Demóstenes pode ser útil à formulação de sua defesa. Como estratégia política, o silêncio faz dele um senador hemorrágico.
A única vez em que o DEM teve candidato próprio ao Planalto foi em 1989. Numa época em que ainda se chamava PFL, a legenda foi às urnas representada por Aureliano Chaves. Amealhou ridículos 0,9% dos votos. Terminou em oitavo lugar.
Desde então, o ex-pefelê frequenta a cena política como força auxiliar do tucanato. Esvaziado pelo PSD do desertor Gilberto Kassab, o DEM –ou um pedaço expressivo do partido— via em Demóstenes um projeto de alforria.
Ao encontrar-se com seu erro, Demóstenes tornou-se uma espécie de ex-Demóstenes. E o DEM voltou a flertar com o seuSistema Hormonal (Um dos 600 BlogS do Painel do CoroneL PaiM) destino de “rabo de leão.” Dependendo de como terminar a administração Dilma Rousseff, pode ter de associar-se a um PSDB sem juba.
Quanto a Demóstenes, está como que condenado ao mesmo tipo de tratamento que costumava dispensar aos transgressores que tinham o azar de cruzar-lhe o caminho. Ao misturar-se com Cachoeira, o ex-presidenciável tropeçou no erro. Passou adiante, sem desconfiar de que o erro é o erro. Sendo quem era, deveria ter olhado para o erro e proclamado: “Ali está o erro”.

domingo, 25 de março de 2012

Serra, Aécio e a neo-TPM, tensão pré-municipal - Josias de Souza


Majoritariamente favorável à candidatura presidencial de Aécio Neves, o tucanato federal torce pela candidatura municipal de José Serra com espírito olímpico. Um pedaço do PSDB inspira-se no lema do barão de Coubertin, criador das Olimpíadas modernas: “O importante não é vencer, é competir.”
Um grão-tucano especialista em intrigas emplumadas explica o paradoxo: “Sentado na cadeira de prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab converteu o DEM, um partido que era relativamente estruturado, em ruínas. Acomodado no mesmo assento, Serra pode, com menos esforço, virar o grande estorvo do projeto presidencial de Aécio.”

quarta-feira, 21 de março de 2012


Para Serra, assinatura de Serra equivale a ‘nada’ (Josias de Souza)



Como na sina de Prometeu, José Serra está acorrentado a um suplício. Assumido em 2004 e desonrado em 2006, o compromisso de permanecer na prefeitura até o fim do mandato bica-lhe o fígado com a renitência de uma águia de mitologia grega.
Serra assinara o fatídico documento durante sabatina organizada pela Folha em 14 de setembro de 2004. Dali a dois anos, em 2006, deu o assinado por não rubricado e foi à sorte dos votos na campanha para governador.
Devolvido pelas circunstâncias às querelas municipais, Serra apresenta-se novamente como candidato a prefeito. Numa entrevista radiofônica, foi reinquirido sobre o rompimento do compromisso. Sua emenda piorou o soneto:
“Eu não assinei nada em cartório. Isso é folclore. Houve um debate, uma entrevista. O pessoal perguntou: ‘Se o senhor for eleito prefeito vai sair para se candidatar à Presidência?’ Eu disse que não. ‘Então assina aqui.’ Eu assinei um papelzinho. Não era nada…”
Serra não ignorava que o “papelzinho” viraria munição contra ele. No alvorecer da campanha atual, apressou-se em dizer que o sonho do Planalto “está adormecido”. Assegurou que se concentra agora na prefeitura. Jura que, eleito, governará a cidade até 2016.
Um observador incauto perguntaria: ora, se a assinatura de Serra tem perna curta, como levar ao pé da letra um lero-lero que não dispõe nem do anteparo de um “papelzinho.”

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.