Excelente reportagem de Sueli Cotta, "O Globo" de ontem, revelou diretamente que o governador Aécio Neves decidiu antecipar o lançamento de sua candidatura à presidência da República em 2010, defendendo a realização de prévias no partido, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos. Deixou claro assim que pretende enfrentar o governador José Serra na legenda tucana.
Está perfeito, condições não lhe faltam para a colocação. Mas há um complicador em seu caminho, que não existe para Serra, tampouco para Dilma Rousseff, esta do PT. É que a legislação estabelece para os candidatos o prazo mínimo de um ano de filiação partidária e, ao mesmo tempo, que as convenções para a escolha dos nomes se realizem entre seis a três meses do ano das eleições.
Quando falo no prazo de filiação é porque, com base na motivação demonstrada, se for derrotado no PSDB, Aécio terá que voar provavelmente para o PMDB, ou pelo menos tentar este caminho. Nesta hipótese, ele não pode esperar pela convenção do PSDB em 2010. Nesse momento, se perder a disputa para Serra, terá se tornado inelegível por outra agremiação. Por esta razão, como Sueli Cotta ressaltou, é que Aécio Neves deseja antecipar as prévias que propõe para 2009. Caso perca entre os tucanos, até 30 de setembro, no máximo, um ano antes da sucessão presidencial, pode viajar para outro esquema partidário. Mas isso não basta.
Para o projeto do governador mineiro, torna-se necessário que se institucionalize as prévias como fator decisivo na escolha final, o que existe nos Estados Unidos, como se viu na disputa entre Obama e Hillary Clinton, mas não existe no Brasil. Além disso, quem disse que o vencedor de prévias garante sua escolha antecipada?
Não está no papel. Para que esteja, é indispensável mudar-se a lei eleitoral. Difícil. Difícil porque o grupo de Serra, aliás majoritário no PSDB, evidentemente não vai concordar com a mudança, a menos que tenha certeza absoluta na vitória, também antecipada, junto aos convencionais de 2010. De qualquer maneira, mudar leis no campo político é sempre algo problemático.
Aécio sabe disso, muito melhor do que nós. Ele, afinal de contas, é governador de um grande estado, segundo colégio eleitoral do País. Suas declarações podem constituir a primeira iniciativa para aferir a repercussão de um confronto seu com José Serra, ou preparar o terreno para sair do PSDB e buscar outra legenda. O roteiro de viagem mais provável é o PMDB, mas este partido forma firme no governo Lula.
O presidente da República possui uma candidatura lançada, a ministra-chefe da Casa Civil. O PMDB se disporia a deixar os ministérios que detém para abrir espaço para Aécio? Esta é uma pergunta fundamental? Pode ser, entretanto, também que Aécio esteja procurando aproximar-se ainda mais de Lula, colocando-se como alternativa anti-Serra no caso de a candidata Dilma Rousseff não decolar, como devem decolar os que se dispõem a lutar pela presidência da República. Mas seja como for, o prazo de Aécio permanece como sendo o de 30 de setembro de 2009, já que as eleições estão marcadas para o primeiro domingo de outubro do ano seguinte. A intenção de Aécio de disputar a presidência é clara. Se estivesse disposto a incluir no elenco de suas alternativas a hipótese de ser vice de Serra, não teria detonado ontem, em "O Globo", o processo da sucessão de 2010.
Detonou. Deu início concreto ao páreo. Independentemente, inclusive, de acabar ou não com a reeleição. Este aspecto não faz diferença, nem para ele, nem para Serra, nem para Dilma Rousseff. Faz isso, sim, diferença para Lula, que, com a popularidade lá em cima, com seu governo sendo considerado entre ótimo e muito bom por 64 por cento da população, como destacaram as pesquisas do Ibope e Datafolha, e na escala de 69 por cento na visão do instituto Sensus, pode naturalmente programar uma tentativa de retorno ao Planalto em 2014 ou 2015, caso o mandato presidencial permaneça em 4 anos ou passe a ter, sem reeleição, 5 anos de prazo. As cartas começaram a ser colocadas na mesa, os movimentos iniciais a se verificar.
Tanto assim que tanto Serra quanto Aécio, na mesma edição de "O Globo", destinaram elogios ao PMDB, apontando-o como o vencedor das eleições municipais de domingo passado. Isso porque, com reeleição ou sem ela, a disputa permanecerá sendo em dois turnos, modelo francês instituído por De Gaulle em 65, implantado em nosso País no pleito de 89, quando Fernando Collor derrotou Lula pela margem de 4 pontos. Influiu no destino da disputa o debate que ambos travaram em cadeia nacional e que, surpreendentemente no dia seguinte, foi objeto de montagem feita na Rede Globo pelo então subeditor de jornalismo, Alberico Sousa Cruz.
Luís Inácio da Silva não havia ido bem no confronto e Alberico destacou, na síntese que montou, os melhores momentos de Collor e os piores instantes de Lula. Mas esta é outra questão. Pertence ao passado, está nos arquivos da história. Agora é o futuro. Aliás, como sempre, já que, como diz o velho adágio popular, águas passadas não movem moinhos. Mas se tornam exemplos para que se evitem repetições. A memória do País e de cada um de nós é fundamental por isso. O importante, a partir de ontem, é que foi dada a largada para 2010. Faltam 23 meses. O tempo passa rápido.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
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Quem sou eu
- Blog do Paim
- Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.
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