Na eleição municipal de 2012, asemigaúcha Dilma Rousseff abespinhou-se com uma provocação domineirioca Aécio Neves. “Ela é uma estrangeira na eleição de Belo Horizonte”, bicara o senador tucano. E a presidente petista, híspida como um cacto: “Nasci aqui, no hospital São Lucas. Saí daqui para lutar contra a ditadura e não para ir à praia.”
Ao evocar o bronzeado do seu alvo, Dilma apenas ecoou um discurso usualmente acionado contra Aécio. Os antagonistas do senador costumam insinuar que o gosto dele pelos prazeres da vida é uma evidência de desapreço pelo trabalho. Aécio sempre deu de ombros. Construiu uma carreira política de três décadas sem abrir mão do pacto de felicidade que firmou com a vida.
Nos últimos dias, porém, o agora presidenciável tucano parece se esforçar para atenuar a fama de bon vivant. Aécio passou a difundir imagens de um insuspeitado devoto da rotina em família. Utiliza como vitrine a internet, a mesma plataforma onde seus detratores mantêm aceso uma espécie de forno crematório de sua reputação.
Os amigos já haviam farejado a preocupação do senador em outubro do ano passado, quando Aécio, 53, casara-se com a ex-modelo gaúcha Letícia Weber, 34. A cerimônia foi discreta. Coisa para menos de 15 convidados, no apartamento do noivo, na bairro carioca do Leblon.
Na última sexta-feira (28), Aécio levou à sua página no Facebook uma foto em que aparece com sua segunda mulher, ambos sorridentes. Ao lado da imagem, a mensagem de um marido zeloso: “Na manhã de hoje, fomos a uma consulta médica de acompanhamento da gravidez da Letícia. Há momentos, como esse, em que o sentimento que impera é o de gratidão à vida. Divido, com vocês, a nossa felicidade!”
Na véspera, Aécio havia pendurado no mesmo Facebook uma fotografia ao lado de sua genitora, Inês Maria. “Mãe é força e repouso”, anotara. “Minha vida tem sido especialmente abençoada com a presença amorosa e dedicada de minha mãe. Hoje, ela faz aniversário…”
Uma semana antes, acompanhado da mulher Letícia, Aécio visitara em Recife o casal Renata e Eduardo Campos. Travara com o dono da casa uma conversa eleitoral de três horas, testemunhada por outros políticos. Mas levaria à web a simpática imagem dos dois casais observando o recém-nascido Miguel, quinto filho de Campos e Renata.
Numa entrevista à revista Piauí, em 2007, Fernando Henrique Cardoso explicara a hesitação com que Aécio olhava para o Palácio do Planalto: ele “gosta demais da vida privada dele. Pode parecer banal, mas é assim que as coisas funcionam. Com a Presidência, muda tudo. Como ele não poderia ter mais a liberdade que goza hoje, prefere pensar que tem tempo pela frente.”
O tempo de Aécio já não é tão elástico. Em junho, ele será finalmente confirmado na convenção do PSDB como candidato do partido à Presidência da República. Considerando-se as últimas pesquisas, que atribuem favoritismo a Dilma, o eleitor ainda não enxerga em Aécio a figura de um presidente. Mas o candidato se apressa em produzir o antídoto contra o veneno do petismo. Vai à campanha como um presidenciável de mostruário, equipado de primeira-dama e dos mais tradicionais valores da família mineira.
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