quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Com Dilma, Lula afasta Aécio e Ciro (Pedro do Coutto)

Em Roma, cidade eterna, como se diz, ao incluir a ministra Dilma Rousseff na visita que ele e dona Marisa fizeram ao papa Bento XVI, Lula já teria deixado absolutamente claro que ela é a sua candidata, e do PT, à sucessão presidencial de 2010. Porém, para enfatizar ainda mais sua opção pela chefe da Casa Civil, referiu-se explicitamente ao seu desejo pessoal de vê-la disputando o Palácio do Planalto. Sublinhou fortemente o episódio, inclusive politizando-o ao máximo.

Lançamento de uma candidatura na audiência com Sua Santidade. Brasília vale uma missa, pode-se dizer repetindo frase histórica quanto a Paris de um rei da França no passado. Pelo cenário do lançamento, a escolha é mais que definitiva. Para ganhar ou para perder. Luís Inácio da Silva não tem mais linha de recuo.

Com isso, afastou totalmente as hipóteses de vir a apoiar ou Aécio Neves, caso deixasse o PSDB e fosse para o PMDB, ou Ciro Gomes, em aliança com o PSB. Aécio ainda vai lutar por um lugar ao sol entre os tucanos. Ciro Gomes ficou completamente sem espaço. Pode concorrer isoladamente pelo Partido Socialista Brasileiro, mas sem possibilidade de êxito. Aliás, seria sua terceira tentativa. Na primeira, em 98, teve 10 por cento dos votos.

Na segunda, em 2002, chegou à escala de 112 pontos. Sua legenda é muito fraca, carece de estrutura sólida, o tempo na televisão é mínimo. A impressão que se tem, quanto a Aécio, é que, se não conseguir derrotar José Serra na convenção do PSDB, não terá outro caminho senão apoiá-lo, inclusive podendo aceitar a vice na chapa de oposição. Inclusive, pressentindo que não seria acolhido por Lula, o governador de Minas já iniciou uma série de críticas ao governo, aliás reproduzidas em uma das colunas recentes de Dora Kramer em "O Estado de S. Paulo".

Fechava a estrada do situacionismo, e, como se dizia antigamente, Aécio Neves optou pela rota da oposição. Está certo. Não podendo ser reeleito daqui a dois anos para o Palácio da Liberdade, o chefe do Executivo mineiro ou tenta uma aproximação com o governador de São Paulo ou renuncia seis meses antes para se candidatar ao Senado.

Aliás, sob este aspecto, verifica-se a total impropriedade da legislação eleitoral brasileira introduzida pela emenda 16, de junho de 97. Um governador que disputar a reeleição não precisa desincompatibilizar-se. Enfrenta as urnas no cargo. Mas se desejar candidatar-se ao Senado ou à Câmara dos Deputados precisa renunciar seis meses antes. O mesmo absurdo se aplica ao presidente da República e aos prefeitos.

Das duas, uma: ou ninguém precisaria sair, como ocorre nos Estados Unidos, ou então todos têm que sair. A diferença, resultante de um casuísmo para beneficiar Fernando Henrique Cardoso e que acabou beneficiando também Lula, é simplesmente incompreensível à luz do Direito. Isso de um lado. De outro, pelo que os sintomas indicam, o instituto da reeleição vai terminar com o anunciado projeto de reforma política.

O fim da reeleição viabilizaria Lula para disputar um novo mandato em 2014 ou 2015. Neste último caso, se o término da reeleição acarretasse consigo a volta do mandato presidencial de cinco anos. Eu disse que Dilma Rousseff é a candidata definitiva de Lula para ganhar ou perder. Isso mesmo. Porque, no fundo, o projeto de Lula é o mesmo que Juscelino Kubitschek imaginou para si nas eleições de 60: JK 65, depois de transmitir o governo a Jânio Quadros, em 61.

Era um projeto bastante lógico, pois Juscelino deixou o governo sob grande popularidade. Em 63, lembro bem, as pesquisas do Ibope apontavam grande vantagem para ele contra Carlos Lacerda, virtual candidato da UDN e portanto da oposição. Mas a radicalização do processo político, culminando com a deposição de Jango em 64, mudou todo o esquema. JK era o candidato mais forte para as eleições que não iriam se realizar.

Afirmei que Lacerda era o candidato da oposição. Sem dúvida. Oposição a JK, oposição a Jânio Quadros, já que tinha rompido com o presidente no episódio da condecoração de Guevara, e depois oposição a João Goulart. A contestação a Jânio ficou clara quando, enquanto sexta-feira, em Brasília, Quadros condecorava Che Guevara, no sábado, no Palácio Guanabara, Carlos Lacerda entregava a chave da cidade e recepcionava o líder anticastrista Manoel Varona.

Era a crise explodindo. Três dias depois, como conta Murilo Melo Filho em seu livro, Lacerda vai à TV Tupi e anuncia ter sido convidado pelo presidente para participar de um golpe de estado, incluindo o fechamento do Congresso. Nos bastidores dos quartéis, Jânio tentou armar uma intervenção na Guanabara. Não obtendo o apoio dos ministros Odilo Denys, Silvio Heck e Gabriel Grun Moss, escolheu o lance da renúncia.

Pensou em mobilizar multidões nas ruas por seu retorno nos braços do povo. Mas as multidões se mobilizaram pela posse de Goulart. Rei morto, rei posto, como afirmou na ocasião o governador Juraci Magalhães, então na UDN, mas que fora o primeiro presidente da Petrobras, nomeado por Vargas em 54, meses antes da tragédia de agosto. Mas estas questões pertencem à história e, portanto, ao passado. Agora, o futuro. Lula fez sua opção. Como disse Júlio César, 43 anos antes de Cristo, a sorte está lançada.

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.