segunda-feira, 2 de julho de 2012


Eduardo Campos prepara em segredo o projeto presidencial que, em público, declara não existir (Josias de Souza)



Sob refletores, Eduardo Campos nega que a Presidência da República frequente os seus sonhos. Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, o partido do governador de Pernambuco, declara que a legenda está fechada com Dilma Rousseff.
Nos últimos cinco dias, o blog dedicou-se a mapear os movimentos do não-candidato do PSB. O vaivém que ocorre longe dos holofotes, converte a negativa de Eduardo e a assertiva de Amaral em vistosas dissimulações.
Na quinta-feira (28), quando se formou no STF a maioria de votos que deu ao PSD de Gilberto Kassab acesso ao tempo de propaganda eletrônica e ao fundo partidário público, soltaram-se rojões no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco.
O telefone soou no gabinete de Eduardo. Era o prefeito de São Paulo. Em timbre festivo, Kassab agradeceu ao amigo a ajuda que lhe dera em 2011. O governador mobilizara-se para recolher no Nordeste as assinaturas de apoiadores que permitiram ao PSD requerer na Justiça Eleitoral sua certidão de nascimento.
Em Brasília, um deputado do PSB explicou ao repórter a inusitada atmosfera de congraçamento: “Com a decisão do STF, a candidatura do Eduardo tornou-se viável”. Por quê? “Agora, já temos o tempo de tevê.” O parlamentar contou que, em privado, Eduardo refere-se a Kassab como peça central do seu quebra-cabeça.
Na noite de sexta-feira (29), menos de 24 horas depois do telefonema efusivo, Eduardo reuniu-se, separadamente, com lideranças do PSDB e do PPS de Pernambuco. Convidou as duas legendas a se incorporarem à coligação do candidato do PSB à prefeitura de Recife, seu ex-secretário Geraldo Júlio.
Empinada na última hora, a candidatura de Geraldo, um técnico jamais batizado nas urnas, tornou-se um empreendimento municipal impregnado de simbologismo que ultrapassa as fronteiras da capital pernambucana. Numa das conversas noturnas de sexta, Eduardo disse: “Demos um sinal nacional de que não somos PT.”
O governador não logrou convencer os interlocutores. No dia seguinte, o PSDB confirmou em convenção a candidatura a prefeito do deputado estadual Daniel Coelho. Vai à disputa com uma vice do PPS, Débora Albuquerque. Ficou entendido, porém, que a oposição se associará à caravana de Eduardo se o candidato dele for ao segundo turno contra o rival do PT, o senador Humberto Costa.
Cerca de três meses antes, Eduardo ouvira de um ex-desafeto, o senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB pernambucano, um comentário que se revelaria premonitório. Jarbas dissera ao governador que, se quisesse de fato alçar voo nacional, teria de tomar distância do PT. O conselheiro não imaginara que sua opinião fosse resultar num acatamento tão prematuro. Surpreendido, Jarbas abençoou a entrada do seu PMDB na coligação urdida por Eduardo contra o petismo de Recife.
Eduardo distancia-se do PT com método. Declarou guerra em Recife. Mas, antes, teve o cuidado de empurrar o seu PSB para dentro da chapa petista de Fernando Haddad em São Paulo. Afasta-se do PT sem dinamitar a ponte que o liga a Lula. Simultaneamente…
Em movimento de paradoxal complexidade, Eduardo vinculou-se em segredo ao PSDB paulista, um pedaço do tucanato que Lula está empenhado em derrotar. A aliança com Haddad custou ao PSB a secretaria de Turismo do governo de Geraldo Alckmin. O deputado federal Márcio França (PSB-SP), que ocupava a pasta, teve de pedir demissão.
Um auxiliar de Alckmin contou ao repórter que, antes de retornar à Câmara, Márcio França, que preside o PSB em São Paulo, teve com o ex-chefe uma conversa subterrânea. Autorizado por Eduardo Campos, o deputado informou ao governador tucano que o acerto com o PT paulista não se estende a 2014.
Ficou entreaberta a porta para uma associação do PSB com a candidatura de Alckmin à reeleição. Mais um indicativo de que Eduardo caminha pelo cenário de 2012 com os olhos voltados para 2014. No sonho silencioso do governador pernambucano, São Paulo tem a aparência de um pesadelo.
Ninguém chega ao Planalto sem recolher no maior colégio eleitoral do país uma votação expressiva. Mal comparando, Eduardo é tão ignorado pelo eleitor de São Paulo quanto Aécio Neves, o presidenciável do PSDB, é desconhecido do eleitorado nordestino. Para entrar na briga sucessória ambos terão de surprir suas debilidades.
Uma liderança do PSB esforçou-se para explicar ao repórter o paradoxo da ligação de Eduardo com Alckmin, um expoente do partido de Aécio. Disse que, em política, tudo o que parece absurdo hoje pode fazer nexo amanhã. “Para nós, caso a candidatura do Eduardo se viabilize, interessa que o Aécio seja candidato, para levar a disputa ao segundo turno. Para o Alckmin, pode ser conveniente abrir dois palanques presidenciais em São Paulo.”
Mas Kassab, personagem que Eduardo tem como aliado, não é adversário de Alckmin e possível candidato ao governo paulista?, inquiriu o repórter. “Nada impede que o Kassab seja vice numa eventual chapa do Eduardo ou candidato ao Senado”, conjecturou o entrevistado do PSB.
Na semana passada, Rui Falcão, presidente do PT, encontrou-se com um congressista do PSB num voo para Brasília. Disse que havia estranhado o rompimento de Eduardo com o PT de Recife. Insinuou que ele combinara apoiar Humberto Costa, o candidato petista.
O que vocês acertaram com ele?, perguntou o interlocutor de Falcão. O mandachuva do PT afirmou que seu partido comprometera-se a apoiar o candidato que Eduardo escolhesse para sucedê-lo no governo de Pernambuco, em 2014. E quanto à Presidência?, quis saber o congressista. Falcão riu. E seu companheiro de viagem: “Está explicado.”
Para a sucessão estadual, Eduardo tenta convencer José Múcio Monteiro, ex-ministro de Lula, atualmente no TCU, a tornar-se o seu candidato. Com isso, espera amarrar o partido de Múcio, o PTB, ao seu projeto nacional. O governador achega-se também ao PV federal. Mantêm, de resto, um diálogo amistoso com o presidente do PDT, Carlos Lupi, expurgado por Dilma do Ministério do Trabalho.
Conforme já noticiado aqui, Dilma deixou de ser uma opção automática dos partidos de sua coalizão para 2014. A crise econômica e o gosto da presidente pelo atrito afasta os aliados. Eduardo atravessa a rua e, da outra calçada, acena para os insatisfeiros. Mexe-se como se imaginasse ser factível antecipar para 2014 algo que parecia só fazer sentido para 2018.
Pode-se dizer tudo do governador de Pernambuco, inclusive que sonha com o impossível. Mas arrisca-se a fazer papel de bobo quem der ouvidos ao lero-lero de que Eduardo Campos, que ficará sem mandato daqui a dois anos e meio, não acalenta pretensões presidenciais.

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.