BRASÍLIA - Seria viável uma chapa Aécio Neves-Ciro Gomes, para as eleições presidenciais de 2010? Só por milagre, mas milagres, às vezes, acontecem. Primeiro, o governador de Minas precisaria deixar o PSDB, onde pontifica sem ressalvas a candidatura José Serra. A solução seria passar-se para o PMDB, mas qual a reação dos tucanos? De pouco adiantaria exigirem, por analogia, a cassação do mandato de Aécio, porque além do entendimento de que a decisão do Supremo Tribunal Federal vale apenas para mandatos legislativos, caso bandeando-se para o PMDB a fim de disputar a eleição presidencial, ele precisaria renunciar ao governo mineiro seis meses antes da eleição, ou seja, em abril. Acresce ser o PMDB um enigma. Quem garante que o partido, acolhendo o governador, fará dele o seu candidato? Tem muita gente contra, não apenas os partidários das candidaturas Roberto Requião e Nelson Jobim. Para desembarcar numa aventura, Aécio Neves pensará duas vezes, lembrando-se de que seu avô, Tancredo Neves, quase viu desfeitos seus sonhos presidenciais ao fundar o PP, deixando o PMDB, que era "o partido do Arraes". Por uma vacilada do governo militar, que criou dificuldades ao funcionamento do novo partido, Tancredo voltou atrás e reintegrou-se na antiga legenda, onde depois obteve a consagradora indicação. O reverso da medalha também é cheio de espinhos e escarpas. Alguém pode ter certeza de que Ciro Gomes aceitaria lugar subalterno, disputando a vice-presidência? O ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda e da Integração Nacional é candidato a presidente da República. O raciocínio que valeria para Aécio Neves, de poder contar com o apoio do presidente Lula, vale também para Ciro Gomes, até com mais ênfase, porque integra a base parlamentar do governo, pelo Partido Socialista. Mesmo assim, quer dizer, apesar desses obstáculos, tem gente insistindo em que a saída para os atuais detentores do poder encontra-se na chapa Aécio-Ciro. O presidente Lula já deu sinais de que o candidato não precisará necessariamente provir do PT. Antes de qualquer companheiro ele percebeu a fragilidade de seu partido em termos de nomes de peso para concorrer à sua sucessão. Além disso, contribuiu para aplainar ainda mais a base parlamentar oficial. Por certo encontrará dificuldades variadas que talvez não supere, se quiser impedir o PT de concorrer com nome próprio, mas sempre valerá a pena prever o segundo turno, diante da evidência de que nem Dilma Rousseff, nem Marta Suplicy, nem Tarso Genro e nem Patrus Ananias alcançariam os dois primeiros lugares. Em suma, e apesar do anacronismo de certos observadores, insistindo em que é cedo e que muita água passará sob a ponte, tanto o presidente Lula quanto os líderes partidários e os possíveis candidatos já se preparam. Preferem ficar com o provérbio árabe de que bebe água limpa quem chega primeiro na fonte. Quem sabe a salvação do governo de coalizão hoje no poder repouse mesmo na dobradinha Aécio-Ciro? Apenas um adendo, na questão sucessória: caso vá ficando demonstrado que ninguém tira a vitória de José Serra e dos tucanos, conforme as pesquisas, engrossará a corrente do terceiro mandato, que nem o Lula conseguirá conter. Se quiser, é claro. Não há como negar que a performance de Garibaldi Alves na presidência do Senado vem constituindo grata surpresa, até para os céticos que nele não faziam fé. O senador pelo Rio Grande do Norte entrou com o pé direito quando tomou posse e, depois, ao inaugurar os trabalhos da presente sessão legislativa. Protestou contra as incursões do Executivo e do Judiciário nas prerrogativas do Legislativo e vem estimulando seu colega presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, a também opor-se à enxurrada de medidas provisórias editadas pelo governo. É possível que ainda neste primeiro semestre o Congresso vote emenda constitucional limitando o poder de o Palácio do Planalto legislar e restringindo as medidas provisórias exclusivamente a casos de urgência e relevância. E sem a inadmissível cláusula do trancamento das pautas de Câmara e Senado enquanto não apreciadas em prazo específico. O governo não está gostando nem um pouco, em especial a ministra Dilma Rousseff, mas deputados e senadores, desta vez, parecem dispostos a enfrentar reações. Mantendo o mesmo tom de comportamento até o final do ano, Garibaldi se transformará no grande eleitor para sua sucessão no biênio 2009-2011, de fundamental importância por conta da sucessão presidencial e das eleições gerais de 2010. Pode ser que decida concorrer ao governo do Rio Grande do Norte, que já ocupou, mas, se preferir descer da presidência do Senado para o plenário, terá se transformado num ponto de referência. O presidente Lula declarou a disposição de não intrometer-se nas eleições municipais de outubro, ou seja, não subirá em palanque algum, sequer dos companheiros. Tem motivos, porque em boa parte das capitais estaduais e das grandes cidades os diversos partidos da base de apoio do governo estarão se enfrentando na escolha dos prefeitos. Mesmo assim, o presidente tem sido alertado por amigos de que mais valeria criar algumas desavenças em seu pano de fundo do que deixar o caminho livre para os tucanos. Uma vitória de Geraldo Alckmin em São Paulo serviria para tornar ainda mais difícil a sucessão presidencial de 2010, tendo em vista que no aceso da disputa José Serra e o hoje candidato inarredável acabarão se acertando. Por tudo isso, aguardam os petistas de São Paulo que o presidente abra pelo menos uma exceção e se engaje na campanha de Marta Suplicy para a sucessão de Gilberto Kassab. O sinal de sua concordância estaria na promessa de que, derrotada, a ex-prefeita retornaria ao Ministério do Turismo.Surpresa agradável
Cuidado com os tucanos
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Aécio-Ciro, uma chapa impossível? (Carlos Chagas)
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- Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.
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