sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Aécio x Serra

15/02/2008

Apesar de ser o político com as mais robustas intenções de voto nas pesquisas sobre a sucessão presidencial de 2010, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), não terá vida fácil para viabilizar a sua candidatura.

Evidência disso foi a eleição do novo líder da bancada de deputados federais do PSDB, episódio no qual o candidato de Serra, Arnaldo Madeira, foi derrotado por 36 a 22 votos pelo colega José Aníbal.

Na quarta-feira (13/02), uma articulação do governador de Minas, Aécio Neves, foi fundamental para derrotar Madeira.

Vez ou outra, Serra e Aécio marcam um jantar, tomam um vinho e combinam uma trégua.

Mas o armistício não dura até a sobremesa.

Motivo: só há uma vaga de candidato a presidente pelo PSDB.

Aécio não aceita que a candidatura Serra seja um fato consumado, como querem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros importantes dirigentes tucanos.

Serra avalia que 2010 será sua última e melhor chance de conquistar o Palácio do Planalto. O paulista terá então 68 anos. Já Aécio estará com 49 anos na eleição presidencial. Ainda jovem para um político, poderia aguardar.

O mineiro até admite não disputar, mas diz a aliados que precisará ser convencido e batido lealmente.

Entretanto, ele crê que haverá na próxima sucessão fatores favoráveis a um nome da oposição.

Primeiro e mais significativo desses fatores: Lula não poderá concorrer. Em 2014, porém, o atual presidente poderá se recandidatar.

Outros fatores: PT não tem um nome forte e Ciro Gomes (PSB) ainda assusta setores petistas e do empresariado. Ou seja, 2010 poderá ser o ano em que o cavalo passará selado na porta de Aécio.

A disputa entre os dois principais presidenciáveis do PSDB ainda terá muitos rounds. Para complicar, há divergências de outras naturezas no partido que contribuem para enfraquecer os tucanos.

Uma delas é o modo como a legenda deve fazer oposição a Lula.

Uma ala mais radical prega linha dura em relação ao petista. Outra, composta por Aécio e Serra, prefere pegar mais leve.

Ironicamente: Aécio, mais moderado do que Serra em relação a Lula, aliou-se a um "oposicionista radical" como Geraldo Alckmin para derrotar o governador paulista no episódio da eleição do novo líder do tucano. Serra tem também o seu "radical de conveniência", FHC.

Embaralhadas assim, as divisões tucanas tendem a enfraquecer o partido, que ora parece liderado pelo DEM, ora atua como uma força disposta a fazer uma sonhada aliança com o PT.

Nesse cenário, Serra tem mais a perder do que Aécio, político que transita com mais desenvoltura em outras paragens.

O mineiro é cortejado pelo PMDB, que adoraria tê-lo filiado para lançá-lo à Presidência. Possui linha direta com Lula. E é amigo de um grande inimigo de Serra, o deputado federal e ex-ministro Ciro Gomes (PSB), político do campo lulista com maior cacife eleitoral nas pesquisas mais recentes.

*

Arquivo Datafolha

Na pesquisa Datafolha publicada no início de dezembro, houve um cenário com os dois presidenciáveis tucanos. Serra obteve 33%; Ciro, 19%; Heloisa Helena (PSOL), 15%; Aécio, 11% e Nelson Jobim (PMDB e ministro da Defesa), 2%.

Em um cenário sem Aécio e com a melhor marca de um postulante petista (6% de Marta Suplicy, ministra do Turismo), Serra ficou com 37% contra 18% de Ciro.

HH obteve 13%, e Jobim, 2%. Quando Dilma Rousseff substituiu Marta, a ministra da Casa Civil conseguiu modestos 2%. Nessa simulação, Serra obteve 38%. Ciro, 19%.

Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kalencar@folhasp.com.br

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Quem sou eu

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.