Apesar de ser o político com as mais robustas intenções de voto nas pesquisas sobre a sucessão presidencial de 2010, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), não terá vida fácil para viabilizar a sua candidatura.
Evidência disso foi a eleição do novo líder da bancada de deputados federais do PSDB, episódio no qual o candidato de Serra, Arnaldo Madeira, foi derrotado por 36 a 22 votos pelo colega José Aníbal.
Na quarta-feira (13/02), uma articulação do governador de Minas, Aécio Neves, foi fundamental para derrotar Madeira.
Vez ou outra, Serra e Aécio marcam um jantar, tomam um vinho e combinam uma trégua.
Mas o armistício não dura até a sobremesa.
Motivo: só há uma vaga de candidato a presidente pelo PSDB.
Aécio não aceita que a candidatura Serra seja um fato consumado, como querem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros importantes dirigentes tucanos.
Serra avalia que 2010 será sua última e melhor chance de conquistar o Palácio do Planalto. O paulista terá então 68 anos. Já Aécio estará com 49 anos na eleição presidencial. Ainda jovem para um político, poderia aguardar.
O mineiro até admite não disputar, mas diz a aliados que precisará ser convencido e batido lealmente.
Entretanto, ele crê que haverá na próxima sucessão fatores favoráveis a um nome da oposição.
Primeiro e mais significativo desses fatores: Lula não poderá concorrer. Em 2014, porém, o atual presidente poderá se recandidatar.
Outros fatores: PT não tem um nome forte e Ciro Gomes (PSB) ainda assusta setores petistas e do empresariado. Ou seja, 2010 poderá ser o ano em que o cavalo passará selado na porta de Aécio.
A disputa entre os dois principais presidenciáveis do PSDB ainda terá muitos rounds. Para complicar, há divergências de outras naturezas no partido que contribuem para enfraquecer os tucanos.
Uma delas é o modo como a legenda deve fazer oposição a Lula.
Uma ala mais radical prega linha dura em relação ao petista. Outra, composta por Aécio e Serra, prefere pegar mais leve.
Ironicamente: Aécio, mais moderado do que Serra em relação a Lula, aliou-se a um "oposicionista radical" como Geraldo Alckmin para derrotar o governador paulista no episódio da eleição do novo líder do tucano. Serra tem também o seu "radical de conveniência", FHC.
Embaralhadas assim, as divisões tucanas tendem a enfraquecer o partido, que ora parece liderado pelo DEM, ora atua como uma força disposta a fazer uma sonhada aliança com o PT.
Nesse cenário, Serra tem mais a perder do que Aécio, político que transita com mais desenvoltura em outras paragens.
O mineiro é cortejado pelo PMDB, que adoraria tê-lo filiado para lançá-lo à Presidência. Possui linha direta com Lula. E é amigo de um grande inimigo de Serra, o deputado federal e ex-ministro Ciro Gomes (PSB), político do campo lulista com maior cacife eleitoral nas pesquisas mais recentes.
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Arquivo Datafolha
Na pesquisa Datafolha publicada no início de dezembro, houve um cenário com os dois presidenciáveis tucanos. Serra obteve 33%; Ciro, 19%; Heloisa Helena (PSOL), 15%; Aécio, 11% e Nelson Jobim (PMDB e ministro da Defesa), 2%.
Em um cenário sem Aécio e com a melhor marca de um postulante petista (6% de Marta Suplicy, ministra do Turismo), Serra ficou com 37% contra 18% de Ciro.
HH obteve 13%, e Jobim, 2%. Quando Dilma Rousseff substituiu Marta, a ministra da Casa Civil conseguiu modestos 2%. Nessa simulação, Serra obteve 38%. Ciro, 19%.
Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos. E-mail: kalencar@folhasp.com.br |
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