Claudia Andrade e Piero Locatelli
Do UOL Notícias
Em Brasília
A provável candidatura da senadora Marina Silva (AC) à Presidência da República pelo PV já mexe com os ânimos de diversos setores da sociedade. Conhecida principalmente por sua atuação na área do meio ambiente - visto por muitos como o tema a ser debatido na atualidade -, a ex-ministra tem uma postura conservadora em relação a outros temas, como a descriminalização do aborto.Do UOL Notícias
Em Brasília
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Conhecida principalmente por sua atuação na área do meio ambiente, a ex-ministra tem uma postura conservadora em relação a outros temas, como a descriminalização do aborto
Ruralistas e ambientalistas têm posições claras sobre a candidatura de Marina Silva. Já os setores católico e feminista ainda evitam analisar o cenário político do próximo ano com a participação da senadora.
O PV é favorável a descriminalização do aborto, ao contrário de Marina. A solução para a incompatibilidade foi a criação do que os dirigentes do partido chamaram de "cláusula de consciência": Marina deve se omitir da questão se assim desejar.
Para organizações feministas, o tema não deve ficar fora da pauta de debates no próximo ano. "Não podemos nos esquivar desse tema. O tema da ilegalidade do aborto no Brasil merece um debate sério e aprofundado, sem influência de julgamentos morais e religiosos", disse Patrícia Rangel, assessora técnica do Cfemea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria).
"Sabemos que o tema ainda desperta polêmica e infla os ânimos, mas esperamos que todos os candidatos - o que, claro, inclui Marina Silva - promovam um debate sério. Esperamos que o debate saia do âmbito da polêmica gratuita e das discussões religiosas, e seja colocado no campo dos direitos das mulheres e da saúde pública", afirmou Valéria Melki, da entidade feminista "Católicas pelo direito de decidir".
Marina Silva queria ser freira em sua adolescência e militou nas Comunidades Eclesiais de Base, ligadas à Teologia da Libertação. Mais tarde, abandonou a "esquerda católica" e tornou-se evangélica da Assembleia de Deus.
O vereador fluminense Alfredo Sirkis, um dos fundadores do PV, diz que a religião não influirá nas propostas da possível candidata. As organizações feministas têm a mesma expectativa.
"A Marina Silva e os demais candidatos devem, na esfera pública, legislar para garantir a saúde e os direitos humanos das mulheres, incluindo direitos sexuais e reprodutivos. Em sua vida privada, cada um pode mover-se pela sua crença e seus valores pessoais, mas no âmbito público, não", analisou Valéria Melki.
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Procuradas, as entidades católicas CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e CPT (Comissão Pastoral da Terra) não quiseram dar declarações sobre a possível candidatura da senadora.
Meio Ambiente
Sobre o setor em que Marina Silva é mais atuante, o meio ambiente, a única convergência entre ruralistas e ambientalistas é que sua candidatura será importante para colocar o assunto em pauta. A partir daí, contudo, as opiniões de ambos são antagônicas.
"Eu acho importante a possível candidatura da Marina. Ela vai trazer para pauta o ambientalismo radical. Aquele que não tem diálogo, que é ditadura pura e que é comandado pelas ONGs estrangeiras", ironiza o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), líder da bancada ruralista na Câmara dos Deputados.
Segundo Colatto, a discussão sobre a posição "radical" da ex-ministra do Meio Ambiente daria mais destaque ao trabalho do setor agropecuário.
Já o diretor de política ambiental da ONG Conservação Internacional, Paulo Prado, diz que a candidatura de Marina seria uma oportunidade de debater a sustentabilidade. "Nunca vi a Marina falar contra o desenvolvimento. O Brasil quer desenvolvimento e ela quer desenvolvimento sustentável".
Para Prado, no entanto, a filiação da senadora ao PV é uma oportunidade melhor para o partido do que para a possível candidata. "O PV é um enigma e ainda não disse ao que veio. Não tem coerência programática. O pouco que é conhecido de sua bandeira é confuso".
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