Em São Paulo
Líderes do PSDB defendem que seu provável candidato ao Palácio do Planalto, o governador de São Paulo, José Serra, busque a vitória nas eleições presidenciais exibindo biografia e trajetória pública mais conhecida que a da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, presidenciável petista. Mas os tucanos também acumulam artilharia contra projetos – ou o que classificam como a falta deles - capitaneados pela preferida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mapeiam onde concentrarão as críticas.
As críticas à capacidade de gestão de Dilma, disseram interlocutores de Serra no PSDB e no DEM, se concentrarão no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que gerou no início de janeiro o primeiro bate-boca entre PSDB e PT neste ano. Para este ano, de acordo com dados oficiais, R$ 17,2 bilhões foram autorizados para a iniciativa, mas apenas R$ 1,9 bilhão foi empenhado e R$ 13,7 milhões foram efetivamente pagos até o início de fevereiro.
Dilma bateu tambores durante a semana que passou com o balanço do PAC em três anos, indicando a realização de 63% das obras ligadas ao Orçamento Geral da União – o programa também inclui projeções de investimentos privados. A oposição, por sua vez, preferiu usar dados do Sistema Interligado de Administração Financeira (Siafi) para dizer que, ao contrário do discurso governista, a execução dos recursos só cai desde 2007 e que desde seu surgimento o programa executou apenas 33% do total.
Em 2007, dizem os tucanos, a expectativa do governo era de gastos de R$ 16,5 bilhões, mas na verdade, de acordo com os tucanos, foram utilizados R$ 12 bilhões, ou 72% do previsto. O levantamento do PSDB também aponta que em 2008 o PAC só executou 68% dos R$ 19 bilhões estimados no início daquele ano. Em 2009, ao contrário do anúncio de Dilma, os oposicionistas estimam que o percentual de realizações tenha sido de 31% dos R$ 28,4 bilhões anunciados.
“A ministra Dilma não tem essa capacidade gerencial que o PT gosta de alardear. Se tivesse, teríamos obras de verdade no país inteiro. Temos anúncios, lançamentos de pedra fundamental, vistorias, mas de concreto é muito pouco. O PAC é uma embalagem marqueteira e cabe ao PSDB mostrar isso na campanha presidencial, sem se esquecer de que temos de mirar o futuro”, disse o secretário-geral da legenda, deputado Rodrigo de Castro (MG), ligado ao governador mineiro, Aécio Neves.
“Se ela soubesse gerir o programa tão bem nós não teríamos quase R$ 30 bilhões parados que vão passando de um ano para o outro sem serem utilizados. Se a Dilma fosse uma gerente melhor no PAC, o Brasil poderia ter uma infraestrutura melhor nesses últimos anos. Não foi o que aconteceu, os gargalos continuam”, afirmou. O governo federal alega que parte dos recursos não é aplicada por falta de projetos de governos municipais e estaduais.
O próprio Serra, sem admitir candidatura à Presidência, já deu suas primeiras alfinetadas em Dilma. "O TCU (Tribunal de Contas da União) impugnou dezenas de obras federais, mas não impugnou o Rodoanel. Em geral não temos obras paralisadas por esse tipo de problema. É efeito da eficiência da ação governamental", afirmou o governador a jornalistas. "Para o TCU o Rodoanel é uma obra federal, apesar de o dinheiro do governo federal ser R$ 1,2 bilhão de R$ 4,4 bilhões."
Nacional ou regional?
Nos bastidores, tucanos paulistas se dividem entre os defensores de críticas mais nacionais a Dilma e outras, regionalizadas. Um dos interlocutores do governador, que pediu para não ser identificado, defende discursos focados nos Estados. “Acho que um discurso muito geral pode passar a impressão de distanciamento dos problemas locais. Mesmo no Nordeste, onde há apoio forte ao Lula, podemos ampliar nosso espaço se discutirmos bem quais são as questões locais em infraestrutura”, disse.
Entre os Estados onde discurso local seria especialmente importante, o tucano citou todos os da região Sul -Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná -; os nordestinos Alagoas, Pernambuco e Ceará; e os dois principais colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais. “Em todos eles o governo federal investiu menos do que deveria. É só ver as obras de aeroportos, portos e ferrovias que não foram feitas nesses locais ou, se estão sendo feitas, andam devagar demais.”
Para o líder do Democratas no Senado, José Agripino Maia (RN), também cotado para a posição de vice numa eventual chapa encabeçada por Serra, a crítica da capacidade de Dilma gerenciar obras não deve ser regionalizada. “Se a oposição for ficar pegando um caso por Estado e ficar batendo só naquilo a crítica como um todo perde relevância. Não podemos fulanizar, porque entendemos que a ministra representa um retrocesso para o Brasil como um todo, não por Estado”, afirmou.
Agripino prevê uma disputa dura entre Serra e Dilma – tecnicamente empatados em um dos cenários da mais recente pesquisa CNT/Sensus. Ele também avalia que a crítica à gestão petista também deve incluir “uma avaliação sobre o modelo antigo que ela representa, que é estatizante e concentrador. “O modelo de administração que deu certo no Brasil é o que produziu o pré-sal com a quebra do monopólio da Petrobras, que hoje é mais forte porque enfrenta competição externa. A ministra representa o Estado mais devagar porque foi aparelhado. É esse nosso argumento.”
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