segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dilma: como ministro, José Serra ‘planejou’ o apagão


Debate sobre a questão ética ‘é muito bom para a gente’

‘Se teve um governo que levantou o tapete, foi o nosso’

‘Principais descobertas envolvem os governos anteriores’

‘Serra foi ministro do Planejamento. Planejou o quê, hein?’



Sérgio Lima/Folha
Em sua primeira entrevista como ex-ministra, a candidata Dilma Rousseff começou a exibir as garras.



Ela falou ao repórter Leonencio Nossa, que a abordou ao final de uma de suas caminhadas matinais às margens do Lago Paranoá.



Acompanhada apenas de Nego, o cão labrador que herdou de José Dirceu, Dilma falou de bate-pronto.



Questionada sobre as referências éticas que permearam o discurso de despedida do rival José Serra do governo de São Paulo, Dilma disse:



“Esse debate é muito bom para a gente. Pode olhar tudo o que foi feito. Nunca se esqueça que foi a CGU quem descobriu a máfia dos sanguessugas”.



Esquivou-se de mencionar A menção à quadrilha do sangue não foi gratuita. Deflagrada pela PF sob Lula, em 2006, a Operação Sanguessuga iluminou um malfeito iniciado em 2001.



Justamente o período em que Serra respondia pela pasta da Saúde. A patifaria sobreviveu a Lula. Mas Dilma não se animou a entrar em tantos detalhes.



Ao deixar o governo, Serra dissera: "Aqui não se cultiva escândalos, malfeitos, roubalheira. [...] Nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito".



Referia-se, sobretudo, ao mensalão. Um escândalo que sacudiu o governo Lula em 2005 e roubou do PT o que lhe restava de presunção moral.



Sem citar o caso em sua entrevista, Dilma não se deu por achada:



“Se teve um governo que levantou o tapete, foi o governo Lula. [...] Estava vendo, outro dia, levantamento da CGU...”



“...Mostra que as principais descobertas e investigações neste governo foram de casos que ocorreram em governos anteriores”.



Contra a tática do plebiscito –era FHC X ciclo Lula—, Serra tem declarado que prefere contrapor sua biografia à de Dilma.



A candidata petê como que serviu um aperitivo do antídoto que pretende usar para imunizar-se do veneno do rival.



Disse que, sob FHC, Serra não foi apenas ministro da Saúde. Foi também titular da pasta do Planejamento.



Perguntou: “Planejou o quê, hein? Ali, se gestou sabe o quê? O apagão”. Apressou-se em diferenciar a treva tucana do blecaute que desligou da tomada 18 Estados, no ano passado:



“O apagão que eu falo é o racionamento. Porque o pessoal usa um pelo outro. Racionamento é ficar oito meses sem energia”.



Vão abaixo as principais declarações da candidata de Lula:



- A Educação: Ele [Lula] construiu um alicerce. Vamos ter que aumentar ainda mais os investimentos. Não vou dizer porcentual porque não sou doida, mas dá para aumentar progressivamente os investimentos. Não podemos esquecer que teremos recursos da exploração do pré-sal.



- A Saúde: Não tivemos na saúde, nos últimos 30 anos, um momento tão propício, como agora. Demos um grande salto quando estruturamos o SUS, ninguém pode negar. [...] Uma pessoa ficava em filas e filas. Isso não foi resolvido por ninguém. Acho que o grande passo foi dado com as UPAs, as Unidades de Pronto Atendimento, que garantem atenção 24 horas por dia e impedem que a fila se dê no hospital, transfere o atendimento de urgência e emergência para essas unidades...



- A realidade da Saúde é outra, não? Acho que vamos mudar esta realidade. O pessoal tem toda a razão quando se queixa. Não tinha fila no INSS? Nós não falamos que íamos acabar? Acabamos. Vamos mudar a situação da saúde.



- Serra e a ética: Esse debate é muito bom para a gente. [...] Nunca se esqueça que foi a CGU quem descobriu a máfia dos sanguessugas. Tudo foi feito pela CGU, combinado com a PF. Se teve um governo que levantou o tapete, foi o governo Lula. Antes não apareciam denúncias, porque ficavam debaixo do tapete, ninguém apurava. [...] Levantamento da CGU mostra que as principais descobertas e investigações neste governo foram de casos que ocorreram em governos anteriores. A apuração das denúncias levantadas pela Operação Castelo de Areia é um caso [Esse inquérito envolve também obras do PAC, entre elas a Refinaria Abreu e Lima] Acabamos com a figura do engavetador-geral [referência ao ex-procurador-geral da República Geraldo Brindeiro, nomeado por FHC]. Onde está o engavetador? A União não engaveta mais nada. Nos sentimos muito à vontade em fazer essa discussão.



- A biografia do adversário: O Serra que me desculpe, mas ele não foi só ministro da Saúde. Foi ministro do Planejamento. Planejou o quê, hein? Ali, se gestou sabe o quê? O apagão. O apagão que eu falo é o racionamento. Porque o pessoal usa um pelo outro. Racionamento é ficar oito meses sem energia.



- Ciro Gomes: Tenho uma relação muito forte com Ciro. Por conta do fato de termos sido ministros no primeiro mandato do presidente Lula. Foi uma época muito difícil, havia muita tensão, muitas acusações. O Ciro foi um companheiro inestimável. Ele pensa semelhante a todo o projeto do governo. Agora, o que ele vai fazer só ele pode dizer...



- A abertura dos arquivos da ditadura: Não tem revanchismo em relação à memória. Fizemos todas as tratativas na Casa Civil, quando mandamos ofícios a todos os órgãos arquivistas existentes na República. Pedimos que entregassem os arquivos. Foi dito que tinham sido queimados. Então, que se apresentassem as provas. A Aeronáutica entregou a parte do arquivo. As demais Forças disseram que não existem arquivos. O que pudemos fazer, nós fizemos.



- Se eleita, vai abrir o arquivo da inteligência do Exército? O Brasil está bastante aberto. Depende do que vai ocorrer daqui para frente. O aperfeiçoamento da democracia não é uma coisa que se faz de uma vez por todas. Faz a cada dia. É um processo de consulta a pessoas.



- As Forças Armadas: O Plano de Defesa que fizemos foi uma das melhores coisas do governo Lula. Um país deste tamanho tem de aparelhar e valorizar as suas Forças Armadas, tem de ter uma estratégia de defesa. É preciso estar presente na nossa imensa costa, até porque temos a questão do pré-sal, e daí a importância dos submarinos.



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Escrito por Josias de Souza às 06h07

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.