Plantão | Publicada em 11/10/2010 às 07h31m
Reuters/Brasil OnlinePor Carmen Munari
SÃO PAULO (Reuters) - No auditório do debate da TV Bandeirantes, formado por políticos convidados das duas campanhas, petistas eram só sorrisos para a nova postura da candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT), que mostrou as garras pela primeira vez para seu adversário, José Serra (PSDB).
Os tucanos demonstraram surpresa com a agressividade da oponente e diziam que o comportamento de Dilma era de perdedora, uma ironia, já que a candidata está sete pontos à frente de Serra na pesquisa Datafolha, até agora a primeira do segundo turno das eleições presidenciais.
Para o PT, Dilma levou ao palco do debate temas que a campanha tucana trata nos bastidores. "Serra tem uma campanha na TV e outra nos subterrâneos. Vamos acabar com essa hipocrisia", disse José Eduardo Dutra, presidente do partido, no domingo à noite.
Entre os tucanos, o comentário era comum. "A postura dela é de quem está perdendo. Quem está ganhando é light", disse o deputado Jutahy Magalhães Junior (BA), um dos peessedebistas mais próximos de Serra. Para ele, Dilma demonstrou postura agressiva e arrogante. Antes do início do debate, Jutahy chegou a dizer que os temas negativos iriam ficar de fora do programa, oferecendo como argumento a baixa audiência, comparada com outras emissoras.
O governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), concordou que o debate daquela noite lembrava 2006, quando, no primeiro embate presidencial do segundo turno contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele também foi duro. Em desvantagem nas pesquisas, a estratégia acabou sendo negativa para sua campanha. "Só que (aqui) foi invertido", limitou-se a dizer.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, tinha ares de satisfeito. "É bom falar isso cara a cara", disse sobre Dilma. Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, acredita que a candidata "sentiu necessidade de trazer às claras, olho no olho, o que era dito às escondidas". "Arrasou", resumiu a senadora eleita Marta Suplicy (PT), falando diretamente à candidata.
Bem mais "cool," o ex-ministro Antonio Palocci, um dos principais coordenadores da campanha petista, disse que "ela não fez ataque, fez perguntas", enquanto na análise do candidato a vice, deputado Michel Temer (PMDB), Dilma falou para a militância.
Dilma trouxe ao debate questões como a legalização do aborto, considerada uma das responsáveis pela perda de votos junto a eleitores católicos e evangélicos no primeiro turno.
A candidata usou expressões duras contra Serra como "eu lamento as suas mil caras" e "essa forma de campanha que usa o submundo é correta?" Afirmou ainda que a mulher de Serra, Monica, teria veiculado a informação de que a petista é "a favor da morte de criancinhas" e defendeu que "o professor não seja tratado a cassetete".
Serra reagiu dizendo que Dilma quer se "vitimizar" e admitiu que estava surpreso com sua agressividade.
Logo após o debate, Dilma justificou a tática como posição de segundo turno e não admitiu ter sido agressiva.
"Não é uma nova estratégia, é uma nova situação. É debate de segundo turno, em que as pessoas podem explicar de uma forma muito mais efetiva, muito mais dinâmica as suas posições. Quando tem mais candidatos, a roda gira e passa três para chegar em ti. Essa (no segundo turno) é uma forma mais límpida", explicou.
Serra declarou que a escolha do tom não foi dele. "Debate é feito a dois mais o moderador. Se o outro prefere escalar acusações, o debate muda a sua natureza. Eu pensava, se dependesse de mim, ter discutido mais propostas e programas concretos de governo", afirmou ao final.
Segundo a Bandeirantes, o debate teve média de 4 pontos no Ibope, com máxima de 6. O presidente do PT disse que há mais cinco convites de emissoras sendo analisados pela campanha para a realização de debates.
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