PSB lança Campos como representante da mudança
Será lançada neste sábado a candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, tendo como vice a ex-senadora Marina Silva, numa chapa que surge com o discurso de que representa um novo modo de fazer política; projeto que se propõe como via alternativa, no entanto, e aposta no desgaste da polarização PT x PSDB, ocupa um distante terceiro lugar nas pesquisas eleitorais; para reverter a situação, o PSB aposta no uso das redes sociais e no bom uso dos palanques estaduais para alavancar a candidatura socialista; "Será uma campanha de tablado, e não de palanque", disse o líder do PSB no Senado, Rodrigo RollembergBRASÍLIA (Reuters) - O PSB lança oficialmente neste sábado a candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, tendo como vice a ex-senadora Marina Silva, numa chapa que surge com o discurso de que representa um novo modo de fazer política, em um momento em que a população mostra amplo desejo de mudanças.
Ainda assim, a candidatura que se propõe como via alternativa, e aposta no desgaste da polarização PT x PSDB, ocupa um distante terceiro lugar nas pesquisas eleitorais, com Campos oscilando ao redor dos 10 por cento das intenções de voto.
O patamar é praticamente o mesmo que tinha Marina nessa mesma época da corrida presidencial há quatro anos. Na reta final da campanha do primeiro turno de 2010, porém, ainda que tenha terminado em terceiro lugar, Marina obteve quase 20 milhões de votos e forçou a segunda rodada entre a petista Dilma Rousseff e o então candidato do PSDB, José Serra.
Agora, Dilma, que busca a reeleição, lidera a corrida, tendo até o momento como principal adversário novamente um candidato do PSDB, desta vez Aécio Neves.
Mas como as pesquisas mostram que a população quer mudanças e lembrando a arrancada de Marina há quatro anos, líderes do PSB mantêm o otimismo.
"Há um sentimento muito forte na sociedade brasileira... quem representa a inovação, quem representa essa esperança de mudança em direção a um novo futuro é o Eduardo Campos, junto com a Marina", disse o líder do PSB no Senado e candidato ao governo do Distrito Federal pelo partido, Rodrigo Rollemberg.
O senador acredita que ainda há tempo para mudanças no cenário eleitoral, uma vez que a atenção do eleitor não está, no momento, focada nas eleições. Especialmente nestes tempos de Copa do Mundo.
Para ele, assim como para outros socialistas, há perspectiva de crescimento, ainda que a coligação formada também pelo PPS, PPL, PRP e PHS tenha poucos minutos de televisão, algo considerado essencial pelas campanhas adversárias.
"Essa é mais uma questão importante, o modelo da política brasileira baseado em tempo de televisão e estrutura de campanha. Se o desejo é real de mudança, é possível que uma nova estrutura de campanha sintonize isso", disse o deputado Walter Feldmann (PSB-SP), porta-voz da Rede Sustentabilidade, partido que Marina tentou criar, sem sucesso, antes do prazo limite para disputar a eleição deste ano.
O deputado, próximo da ex-senadora, aposta no uso das redes sociais e nas campanhas nos Estados para apresentar as ideias dos candidatos, a exemplo da campanha de Marina em 2010.
"Será uma campanha de tablado, e não de palanque", disse o deputado à Reuters. "Tem um sentimento, um fluxo, tem um vento favorável a essa terceira via."
O PSB deve tentar aproveitar ao máximo a presença de Marina como vice de Eduardo Campos, mas ainda é incerto a capacidade da ex-senadora de atrair votos para o cabeça de chapa.
Daí surge outra frente de batalha que a campanha de Campos deverá travar: a de torná-lo mais conhecido e colar no candidato a imagem de um bom gestor, respaldada por altos índices de aprovação de suas duas gestões à frente do governo de Pernambuco.
"Tem que divulgar o trabalho que ele fez no Nordeste, mostrar que ele é um grande gestor para que a população brasileiria venha a saber o que ele fez em Pernambuco", disse o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE).
TENSÃO INTERNA
A filiação da ex-senadora ao PSB surpreendeu muita gente e causou rebuliço nos meios políticos. Ex-petista e ministra do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marina vinha se esforçando para criar o Rede Sustentabilidade depois de deixar o PV, partido pelo qual disputou a Presidência em 2010.
Mas tendo frustrada sua tentativa de criar o Rede, filiou-se ao PSB, partido que já tinha um nome praticamente certo para concorrer ao Planalto. Campos, presidente nacional do PSB, deixara suas intenções bem claras com a saída de seu partido do governo Dilma, que ele integrou até setembro do ano passado.
A filiação de Marina ao PSB foi acompanhada por aliados seus que trabalhavam na criação do Rede.
Se a aliança entre Marina e do sua ainda inexistente Rede com o PSB inovou do ponto de vista de previsibilidade no campo nacional, por outro lado também tem gerado ruídos, às vezes bem altos, nas negociações estaduais.
Em pelo menos dois importantes colégios eleitorais, o compromisso ideológico e programático pode ter sido deixado de lado para viabilizar alianças do PSB, com o PSDB, em São Paulo, e com o PT, no Rio de Janeiro, justamente partidos a que a dupla se contrapõe no âmbito nacional.
Esses acordos estaduais causaram tensão entre militantes e lideranças da Rede e do PSB. A ponto de, na última quinta-feira, o Rede, que apesar de não ser formalmente um partido, tem estrutura própria, soltar uma nota procurando mostrar sintonia dentro da campanha.
A nota argumenta que tanto a Rede como o PSB são "independentes" e têm "autonomia política", garantindo, no entanto, que Marina participará de atos da campanha em todos os Estados.
O documento, porém, faz questão de lembrar que "os militantes da Rede têm data para deixar o PSB, conforme compromisso firmando entre os partidos no fim do ano passado", explicando que isso ocorrerá quando a Rede obtiver seu registro como partido na Justiça Eleitoral.
Rusgas à parte, pelo menos no campo nacional, a estratégia será a de qualificar o modelo atual como "desgastado" e taxar a oposição, encabeçada pelo PSDB, como mero "contraponto desse modelo".
"Essa é uma via alternativa, uma coligação que se propõe a ter uma posição em relação ao Brasil que modifique sua agenda, o modelo político e o modelo de gestão do Estado", disse Feldmann.
"A gente não se diz nem de oposição nem de situação. A gente recolhe pontos positivos do PT e do PSDB. Mas reconhece que o salto que o Brasil precisa não está mais ligado ao modelo atual", afirmou.
Leia abaixo perfil do candidato publicado pela agência Reuters:
Político obstinado e negociador hábil, Eduardo Campos é candidato em formação
Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - Herdeiro político do lendário Miguel Arraes, um dos ícones brasileiros da resistência à ditadura militar, o pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, é um gestor obstinado e negociador político hábil e duro, mas ainda tenta calibrar melhor o perfil de sua candidatura.
O aprendizado em palanques começou cedo, aos 21 anos, quando participou ativamente da eleição de Arraes, seu avô, para o governo de Pernambuco em 1986. Depois disso, recém-formado em economia, Eduardo Campos foi chefe de gabinete de Arraes, partindo daí para construir sua própria carreira política.
Mas se o ponto de partida foi o avô, quem conheceu um e conhece o outro vê fortes distinções. "Ele gerencialmente é melhor que o avô. Politicamente é mais autoritário que o avô", resumiu um político pernambucano.
Em um campo de futebol, nas palavras de um ex-assessor próximo, Arraes seria um meia cerebral, capaz de lançamentos precisos e com ampla visão de jogo. Campos traz mais um perfil para o ataque, jogaria com a camisa de centroavante, mas não daqueles trombadores.
As diferenças entre eles também são atribuídas ao ambiente político em que os dois foram forjados. Arraes enfrentou a ditadura e aprendeu a fazer política nas dificuldades do sertão. Campos, de 48 anos, desenvolveu seu traquejo político na democracia e com mais condições do que o avô.
A obstinação herdada, porém, provavelmente é seu traço mais marcante.
Depois de ocupar cargos na administração do avô, foi eleito deputado estadual e federal, foi o ministro mais jovem do governo do então presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva e se elegeu governador duas vezes.
No início de 2013, embalado pelo desempenho notável do PSB, do qual é presidente nacional, nas eleições municipais do ano anterior, Campos disse à presidente Dilma Rousseff (PT) que não negociaria o apoio do partido à sua reeleição antes de 2014.
Conforme os meses foram passando, porém, Campos mudou de ideia e estratégia. Entre setembro e outubro o PSB deixou seus cargos no governo Dilma e, numa reviravolta eleitoral impressionante, filiou a ex-senadora Marina Silva para ser sacramentada agora em junho companheira de chapa de Campos como candidata a vice na corrida presidencial.
Mas os últimos meses não deixaram claro o perfil do candidato do PSB na corrida presidencial. Campos busca se apresentar como agente de uma nova política e prega o fim da polarização entre PT e PSDB, que completam 20 anos no comando do país no final de 2014, somados os governos dos dois partidos.
Ele e Marina, que tem um capital político maior por ter disputado a eleição presidencial de 2010 e recebido quase 20 milhões de votos, tentam se equilibrar no discurso de oposição ao atual governo, mesmo tendo sido ministros do governo Lula.
Campos também chegou a fazer uma espécie de dobradinha com o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, em alguns momentos nos últimos meses, mas essa estratégia não funcionou.
"Ele se tornou uma imitação do Aécio. Entre a cópia e o produto original, as pessoas preferem o autêntico", comparou um ministro do governo ao analisar o adversário.
Talvez esse seja um dos motivos que expliquem por que Campos aparece num distante terceiro lugar na disputa, que é liderada por Dilma e tem em Aécio o principal candidato oposicionista. Por outro lado, Campos também terá dificuldades de se descolar do PT, já que apoiou os governos Lula e o governo Dilma até o ano passado.
OBSTINAÇÃO
Em Pernambuco, Campos é visto como um gestor obstinado, que controlava os comandados de perto e cobrava o atendimento de metas quando estava à frente do governo.
Esse controle é visto por adversários como traço de coronelismo, já que a figura do ex-governador parecia onipresente nos demais Poderes e nas administrações municipais.
"Muitos têm medo de dar declaração contrária ao governador", afirmou em novembro à Reuters o deputado estadual Daniel Coelho (PSDB), uma das poucas vozes ativas da oposição à época na Assembleia Legislativa.
Apesar de ser visto como um "trator político", Campos não costuma alimentar ódios pessoais nesse terreno. Exemplo disso é a aliança fechada com o experiente senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), seu antecessor no governo estadual e grande rival de Arraes em Pernambuco.
O que Campos não gosta é de ficar encurralado. Aí, a reação dele não perdoa quem estiver na frente, segundo aliados. Se acuado, "ele não pisca", disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a um interlocutor para descrever o pernambucano.
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