quinta-feira, 26 de março de 2009

A onça e os bodes (Sebastião Nery)

Campanha eleitoral no Nordeste é como casamento na roça antigamente: quem não montava a cavalo não ia à festa. João Cleofas, 76 anos, duas vezes derrotado para o governo, tirou uma foto bonita montado a cavalo, todo esbelto e saiu para senador contra Marcos Freire em 74.

Dormia cinco horas por noite, levantava-se às 6,30, atendia filas de gente no escritório da Arena em Recife, distribuía bolsas de estudo, telhas para cobrir casas, cartões para receitas médicas e saía para o interior fazendo comícios. Dois meses de guerra. A Arena entrou em pânico, sentindo a derrota a cada passo. Argemiro Pereira, deputado da Arena: “Minha mão murcha se eu pedir voto para o dr. Cleofas”.

Cleofas

O governador nomeado, Moura Cavalcanti, ia de dedo no nariz:

- Quem não votar no Cleofas não toma cafezinho no palácio.

Cleofas esperneava, montado nas fotos e ameaçando de dedo duro:

- Marcos Freire é um agente da contestação. D. Helder é comunista!

E o povo, nas esquinas, dava gargalhadas inventando histórias:

Cleofas foi fazer comício em frente à estátua de Mauricio de Nassau: - Povo do meu tempo! Nassau respondeu: - Fala, Cleofas!

Abriram o túmulo de Duarte Coelho, estava lá o apelo:

- Votem em Cleofas! Esse menino vai longe!

Lívio Valença, deputado do MDB, definiu o estrago que Marcos Freire estava fazendo nos redutos oficiais:

- Soltaram a onça no chiqueiro dos bodes.

Pesquisas

Eleição é sempre assim. Cada um soltando sua onça no chiqueiro dos bodes. Não adianta dizer que ainda é cedo, que falta um ano e meio para as eleições e que pesquisa que vale é a da véspera. É verdade, mas não é toda a verdade. Os políticos ficaram agitados com a publicação do “Datafolha” sobre as eleições do próximo ano na maioria dos estados porque sabem que a primeira pesquisa, antes da campanha, da TV, dos marqueteiros, reflete o que o povo já pensa dos candidatos. É a nota da prova da vida de cada um.

Quando a campanha começa, o povo também começa a mudar. Mas sempre a partir dessa base inicial, que é o pensamento popular sedimentado, sem campanha. A pesquisa repercutiu tanto porque é a onça no chiqueiro dos bodes. A partir de agora, nada será como antes. Cada um vai se mexer, fingindo não dar importância, mas armando esquemas, abrindo o chiqueiro.

Outra lição da sabedoria popular sobre pesquisas: é como lobisomem de novela. Ninguém acredita, mas todo mundo abre a janela para ver se há alguma coisa suspeita rondando pela madrugada, uivando na noite.

São Paulo

É uma surpresa atrás da outra. Quem esperava Alckmin com 41% em São Paulo, Marta com 13% e Maluf com 12%? Quando sai Alckmin pelo PSDB e entra Aloysio Nunes, chefe da Casa Civil de Serra, um político sério, eficiente, com excelente biografia, Marta pula para 19% e Aloysio tem apenas 2%. É o que o povo pensa hoje: tucano governador é Alckmin.

No PT, a mesma coisa. Tira Marta e põe Palocci, Alckmin vai a 45% e Palocci com míseros 3%. O competente ministro Hadad é pior: 1%.

Como o PSDB vai tirar Alckmin e o PT tirar Marta? São as onças.

Minas e Rio

Em Minas, Aecio Neves também levou sua lambada. Seu vice-governador, Antonio Anastasia, seu factotum e candidato desde sempre, só 5%. Helio Costa, do PMDB, 41%. Patrus Ananias, do PT, 11%. Se sai Patrus e entra Pimentel, Helio desce para 37%, Pimentel 24%, Anastasia 4%.

No Rio, Sergio Cabral, com o máximo de 26%, é o grande derrotado da pesquisa. Governador candidato à reeleição que não chega a 30% “ou está bichado, Zé, ou tem marimbondo no pé”. Crivela 16%, Gabeira 15% e Lindberg, do PT, 2%. Se Garotinho sai candidato, tem 7% e Sergio despenca para 21%. O Rio está muito interessante.

Bahia e Pernambuco

São os dois principais estados de Lula no Nordeste. Na Bahia, o governador Jaques Wagner do PT tem 36% a 38%, Paulo Souto do DEM, 19%, Cesar Borges do PR, 10% e Gedel Vieira Lima do PMDB, só 7%. É muito pouca farinha para um caminhão tão grande e tão barulhento. Em Pernambuco, há uma situação estimulante: Eduardo Campos do PSB de Lula com 40% e Jarbas Vasconcelos do PMDB com 34%. Mas isso sem o PT disputando. Quando entra o João Paulo do PT, candidato já em campanha, Eduardo cai para 34%, Jarbas fica com 31% e João Paulo 12%.
Duas onças e um bode.

Rio Grande e Paraná

No Rio Grande do Sul, o exportador de cubanos Tarso Genro, do PT, está com 30%, o prefeito José Fogaça, do PMDB, 27%, a governadora tucana Yeda Crusius, 9%. Situação calamitosa. Se sai Tarso e entra Olívio Dutra, o pajé do PT gaúcho, Fogaça vai a 30%, Olívio 24%. O ex-governador Germano Rigoto, do PMDB, no lugar de Fogaça chega a 20%.

No Paraná, o PSDB tem dois candidatos que fazem 39%: o prefeito Beto Richa e o senador Álvaro Dias. O terceiro é Osmar Dias, PDT, irmão de Álvaro, 27 . O PMDB do governador Requião não passa de 8% com seu vice Pessuti. E o PT, de 3% com o ministro Paulo Bernardo. Muito bode.

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Quem sou eu

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.