quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Ciro e lições de 1989



Parece que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se deu conta de que a tendência do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) é mesmo disputar o Palácio do Planalto em 2010. Talvez ainda venha a acontecer, dependendo da evolução da corrida eleitoral, uma tentativa de fazer da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a candidata única de todas as forças que apoiam Lula.

O presidente tem uma carta na manga. Tentar emplacar Ciro como vice de Dilma. Mas é uma articulação complicada, porque dificultaria muito a aliança formal com o PMDB, partido que deseja a vice para oficializar o apoio à candidatura presidencial da ministra.

A prioridade política de Lula é a aliança com o PMDB. Motivos: tempo significativo no horário eleitoral gratuito e a estrutura do partido mais enraizado no território nacional. Transformar a eleição presidencial numa disputa plebiscitária vem em segundo lugar.

Ciro discorda da tese de plebiscito. Discorda porque acredita que a tese é arriscada. E discorda porque ela é inconveniente ao seu plano de concorrer ao Palácio do Planalto. Já a hipótese de vice de Dilma... Mas, com já dito, isso dependeria de uma concessão que o PMDB hoje não está disposto a a fazer.

Nesse contexto, Ciro acredita que poderá ocorrer com ele o que aconteceu com Lula em 1989. Naquela eleição, parte da esquerda queria que o petista apoiasse Leonel Brizola, então candidato do PDT. Brizola parecia uma opção mais realista, com mais chance de ser aceita do que o ex-líder sindical barbudo visto pelos empresários como bicho-papão.

Lula não cedeu. Por uma pequena diferença em relação a Brizola, foi para o segundo turno contra Fernando Collor de Mello, à época no PRN.

A candidatura de Ciro tende a tirar votos de Dilma no Nordeste, o principal celeiro da popularidade presidencial e, portanto, fundamental para a preferida de Lula. Na cabeça de Ciro, que interpretou assim algumas pesquisas, Dilma não vai decolar como o presidente acredita.

Restaria ser candidato a contragosto do presidente. Se o plano de voo der certo, viraria o candidato de Lula no segundo turno. E teria, então, boa chance de derrotar a oposição.

*

Mágica estatística

De tempos em tempos, aparecem uma verdades estatísticas inegáveis. A última versa sobre a capacidade de transferência de votos do presidente Lula. Seria de 20%.

20% de quê? Dos votos que ele receberia se fosse candidato? Isso seria o teto que um candidato apoiado pelo presidente conseguiria? Quanto da intenção de voto hoje estacionada em Dilma é resultado de transferência de prestígio de Lula? Por que não 5% ou 10% de transferência? Por que não 25% ou 30%?

Esse dado de 20% é puro chute. Não dá para dizer quanto Lula transferirá ou não. Há muitos fatores que influenciam a razão do voto.

Dá para falar que o presidente terá forte influência na sua sucessão se mantiver a boa avaliação pessoal e do governo na época da eleição. Obviamente, um presidente com cacife ajudará a sua provável candidata. Mas a força de Lula não é garantia de eleição automática. Nem a "verdade estatística dos 20%" significa que Dilma não possa angariar votos suficientes para vencer.

Quando se trata de pesquisa, melhor levar em conta a seriedade do pesquisador.



E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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Kennedy Alencar, 41, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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Quem sou eu

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.