A vez de Marina
Publicação: 08 de Outubro de 2013 às 00:00
A filiação de Marina Silva ao PSB de Eduardo Campos, além de sacolejar as rampas e gabinetes do Palácio do Planalto, trouxe novo tempero ao cenário político do país. Derna de domingo é o mote das manchetes dos principais jornais brasileiros, sem falar na avalanche de notas e análises que ocupam os espaços das ditas redes sociais, tão sustentáveis como não foi sustentável nos armadores do TSE a Rede de Marina. Mas agora a ex-ministra encontra amparo para armar sua tipoia nas escarpas do cupiá da casa do neto de Miguel Arraes. Basta empurrar o pé na parede para alcançar o balanço acarinhado pela brisa vespertina. Confiro as manchetes de ontem, começando pelo Estadão: “Planalto revê estratégia para enfrentar Campos-Marina”. No Globo: “Eleições 2014 – Decisão de Marina eleva pressão sobre Dilma”. Folha de S. Paulo: “Acordo de Marina e Campos esquenta disputa para alianças”. No Correio Braziliense, quase oitão da Praça dos Três Poderes: “Uma nova ordem eleitoral”. Zero Hora, de Porto Alegre: “Marina organiza e embaralha sucessão”. Sim, teve outra manchete de ontem que me chamou atenção e me preocupou: “ABC pode perder o mando de campo (seis meses) por superlotação”. Está na capa da Folha. Os paulistas não vão perdoar a derrota do Palmeiras jogando no Frasqueirão lotado. Mas isso é outra história. Voltemos à dupla Marina-Eduardo Campos ou seria Eduardo Campos e Marina? Vejamos este comentário de Josias de Souza, do UOL/Folha: “Como todo mundo, Lula surpreendeu-se com a parceria entre seus ex-ministros Eduardo Campos e Marina Silva. Numa primeira avaliação, feita em privado, considerou que a candidatura presidencial do PSB subiu de patamar, tornando-se uma ameaça efetiva aos planos reeleitorais de Dilma Rousseff. Uma ameaça que tende a crescer na proporção direta do tempo de propaganda no rádio e na televisão que Eduardo Campos for capaz de amealhar. Conforme relato feito ao blog, Lula e parte da cúpula do PT passaram a ruminar duas preocupações. Antes, equipavam-se para tentar reeditar o velho Fla-Flu do PT versus PSDB, e liquidar a disputa no primeiro turno. Agora, receiam que o tônico de Marina, além de potencializar o “risco” de segundo turno, empurre Eduardo Campos para essa fase. Estima-se que ele seria um adversário mais duro de roer do que o tucano Aécio Neves. Nos próximos dias, o petismo fará pesquisas (quantitativa e qualitativa) para aferir o potencial da parceria e esboçar uma reação. Dá-se de barato que a irritação de Marina com o PT e o governo fará de Eduardo Campos um candidato de timbre crescentemente oposicionista. Uma novidade que o petismo ainda não sabe muito bem como vai administrar. Por mal dos pecados, a conjuntura se moveu no mesmo final de semana em que foi veiculada a entrevista do marqueteiro João Santana ao repórter Luiz Maklouf Carvalho. Uma “antropofagia de anões”, disse o escultor da imagem de Dilma, levará os antagonistas da presidente a “a se comer lá embaixo”, levando-a a “planar no Olimpo”. No dizer desse João Santana autossuficiente que veio à luz horas antes da formalização da parceria entre os “anões” da Rede e do PSB, o presidenciável “que menos crescerá, ao contrário do que ele próprio pensa, é justamente Eduardo Campos”.De anões e tratores Pegando a deixa de João Santana, o cronista José Roberto Toledo, da editoria política do jornal O Estado de S.Paulo, escreveu o artigo “De anões e tratores”, publicado ontem. Está no meio do fogo soprado pela união Marina-Eduardo Campos. Transcrevo algumas passagens: - “Dilma vai ganhar no primeiro turno porque ocorrerá uma antropofagia de anos. Vão se comer lá embaixo, e ela, sobranceira, vai planar no Olimpo”. O momento pitonisa foi de João Santana, o marqueteiro de Lula e Dilma Rousseff, para a revista Época, pouco antes de a chapa “EduMarina” ser anunciada. - Apesar de fazer previsões, João Santana não tem bola de cristal. Nem ele nem ninguém anteviu que Eduardo Campos levaria Marina Silva para o seu PSB. O governador pernambucano cevou a adversária com discrição, para só dar a fisgada na última hora. Pegou-a pelo fígado: ofereceu-lhe uma boa chance de vingar-se do PT, de Lula e de Dilma sem perder a pose nem discurso – só autonomia. - Os ditos anões não se comeram, se somaram. O resultado da operação é imprevisível. Pode ser uma potência ou uma subtração. Tudo depende de como o eleitor vai perceber a fusão. Se Marina potencializar Eduardo, a candidatura de Aécio Neves (PSDB) perde estatura. Mal Dilma ganhará um problema. Mais um, diga-se, se o marqueteiro traduziu bem o estado de espírito presidencial. - O que mais chama a atenção na frase de Santana não é o verbo nem o substantivo, mas o adjetivo com que descreveu Dilma. O Houaiss define “sobranceira”: “que encara as pessoas com superioridade; arrogante”. Não há melhor receita para autofagia dos gigantes. Por que tamanha sobrançaria?Tratores E os tratores como é que entram nessa história? Estão na segunda parte do artigo de Toledo. Os tratores e outras máquinas pesadas que a presidente Dilma vem distribuindo às prefeituras municipais pelo Brasil afora. Tratores e outros brindes que fazem parte da sua campanha eleitoral. Até o Rio Grande do Norte é citado. Vou deixar para amanhã, porque o Barroco está batendo na porta.Do Barroco O IX Colóquio de Estudos Barrocos, da UFRN, começa amanhã, a partir das 16 horas, na Biblioteca Central Zila Mamede, com a palestra da professora Rocío Olivares Zorrila, da Universidade do México, que falará sobre “De ‘la tristitia salutífera’ e la elocuencia circunspecta: texturas de la simbólica espiritual em el ‘Primero sueño’, de Sor Juana”, a poeta e mística Sóror Juana Inês de La Cruz. Segue um concerto barroco por conta do músico Alexandre Atmarama.Livro Deu na coluna de Ancelmo Gois: - O historiador Evaldo Cabral de Mello acaba de entregar à Companhia das Letras “A educação pela guerra”. O título é uma espécie de homenagem ao seu irmão, o grande poeta João Cabral de Melo Neto, que publicou, em 1965, o seu famoso livro “A educação pela pedra”.
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