Datafolha e Ibope: Deve haver segundo turno e Aécio será o antipetista
As duas últimas pesquisas eleitorais do Ibope e do Datafolha não esclareceram muito em termos estatísticos, mas evidenciaram que a tendência de haver segundo turno e de Aécio Neves ser o representante do antipetismo.
A primeira observação a se fazer sobre as duas pesquisas
referentes à corrida eleitoral para a Presidência da República,
publicadas neste sábado pelo Datafolha e Ibope, é que há evidente
convergência entre estas, conforme se depreende dos números apresentados
em quase todos os seus aspectos. Refiro-me não apenas às diferenças
entre os candidatos, mas também em relação à distribuição dos votos por
regiões, classes de renda e idade. Os dados coletados no mesmo intervalo
de tempo parece ter contribuído para isto.
Do ponto de vista estatístico há indicação mais clara, mesmo que não totalmente garantida, de que haverá segundo turno. Dilma pode ganhar logo agora, mas é menos provável que isso ocorra, mesmo porque o eleitor parece neste momento mais decidido e disposto a entregar mais votos para a oposição como um todo que há menos de um mês. Todavia, seria irresponsável ser categórico nesta afirmação. É preciso ver para crer.
De outro lado, reafirma-se a tendência mais recente de um empate estatístico entre Marina Silva e Aécio Neves, mas é inegável que as indicações são de que o mineiro conseguiu incorporar os votos de oposição ao PT, sobretudo no Sudeste e Sul do país e dentre aqueles mais alfabetizados e com renda mais elevada. O empate técnico “estatístico” não é, portanto, uma igualdade “qualitativa”. Aécio deve ser o candidato oposicionista no segundo turno, se o eleitor se comportar em conformidade com as tendências verificadas há pouco menos de duas semanas. Podem haver ruídos estatísticos neste processo, mas serão exceções à tendência consistente verificada.
Desde o debate da Rede Globo, aqui e ali, já se levantam avaliações no governismo em relação de quem seria melhor enfrentar no segundo turno. Não se pode atribuir um consenso entre os petistas no que tange a este tema. Uns parecem preferir Aécio Neves – seria mais “previsível” – outros prefeririam Marina Silva – “em fase de desidratação”, segundo o marqueteiro de Dilma, João Santana. Do ponto de vista analítico, tudo parece estar no campo do mero “achismo” por duas razões básicas. A primeira é que o segundo turno será um jogo de “paridade de armas” no que se refere ao tempo de rádio e TV, bem como haverá mais tempo para os debates diretos nos órgãos de comunicação. Sem os partidos nanicos, o eleitor se ocupará da essência da disputa que é o antipetismo contra o governismo de quase doze anos. A segunda razão é quesão esperados ajustes na forma e no conteúdo das campanhas para incorporar os pontos a serem combatidos no campo do adversário, bem como para atrair os eleitores que votaram em outros candidatos. Logo, somente após a abertura da campanha é que poderão os candidatos finais avaliar o que vem pela frente.
Se Aécio Neves seguir em frente na eleição, o apoio de Marina Silva é importante, mas é muito menos decisivo que seria no caso da hipótese contrária. Marina precisará mais de Aécio, caso passe pelo teste deste domingo. Isso porque Marina não tem estrutura partidária e de campanha para engendrar um arranque rápido e certeiro contra Dilma – somente três semanas separam o primeiro do segundo turno. Além disso, o eleitor desconfiou de que a candidata do PSB não é uma antipetista na essência – Aécio levantou este aspecto com eficácia política. Marina seria uma “cristã nova” que não reza uma cartilha clara em relação ao seu programa e frente ao Governo. A verdade, neste caso, não é tema aristotélico, trata-se de mera “jogada de cena” que, no caso, funcionou.
A eventual vitória de Marina Silva como oposicionista neste primeiro turno terá de ser acompanhada por uma “repaginada” na ambientalista. De fato, ela não pôde se defender nos dois minutos que dispunha na campanha do rádio e da TV. Contudo, suas aparições na “mídia espontânea” foram, se não desastrosas, pouco eficientes para mostrar que estava preparada para a luta eleitoral e para ser presidente. O eleitor não brinca com o seu voto. Aécio Neves, se derrotado, correrá para o palanque de Marina. Não lhe resta opção. Sem ela, lhe sobrará a herança de uma campanha desastrada e, ainda, a maior responsabilidade por deixar a esguia acreana solitária contra um partido organizado e um governo ferino contra seus adversários. A derrota provável em Minas é outro fator a justificar o seu apoio a Marina no segundo turno.
O grande trunfo de Aécio Neves, candidato mais provável no segundo turno, em ter Marina no seu palanque será o de demonstrar compromisso evidente com políticas sociais. Afinal de contas, a sua aposta até agora foi a de mostrar a incompetência de Dilma na gestão da economia e dos programas econômicos do governo. O eleitor mais pobre, especialmente do Norte e do Nordeste concentra as desconfianças de que o mineiro irá minorar os avanços sociais dos últimos doze anos (não apenas os da gestão de Dilma). Marina poderia ser uma espécie de “fiadora” do lado social do tucano.
A aposta de Dilma contra Aécio Neves será a de mostrar para o eleitorado que os governos tucanos quebraram o país três vezes (na administração de FHC) e que os programas sociais serão dizimados pela administração dos burocratas que apoiam o mineiro. Armínio Fraga em breve se tornará a “Neca Setúbal” de Aécio Neves. Dilma já deu provas desta estratégia no debate da Rede Globo. Todavia, a atual presidente fará acenos para os setores mais ricos da sociedade. Dirá que a política econômica mudará em alguns aspectos, que será preciso atrair o capital privado para os projetos e que a competitividade brasileira precisa ser incrementada, etc. e tal. Se de um lado, Aécio tentará ser “mais social”, Dilma mostrar-se-á mais próxima do capital, dos empresários e da classe média. Um jogo de aproximações no qual o marketing pesará muito mais que os programas e as crenças efetivas dos políticos. Estamos num mundo imagético e nos aprofundaremos nele, provavelmente com espasmos de grosserias e agressões. A entrevista deste sábado de Armínio Fraga no jornal O Estado de S.Paulo é uma evidência de que o tucanato tenta tirar a gravata e vestir o macacão. Fraga foi incisivo propugnador de planos na área social e tenta mostrar que a agenda de Aécio incorpora os principais temas sociais dos governos petistas. A conferir na urna.
As pesquisas deste último dia antes da eleição não foram esclarecedoras no que tange às probabilidades de cada candidato ter um maior ou menor sucesso neste domingo de eleição. Isso se deve a divisão profunda do eleitorado. Segunda-feira será um novo dia para a política. O segundo turno será inaugurado. É mais provável que seja com Dilma e Aécio. Pode ser que Marina dispute com Dilma. A presidente pode até levar a taça definitivamente para casa. Todavia, não devemos nos enganar: o eleitor anda muito arisco e quer ver resultados. Depois da eleição não vai ser fácil aplicar o velho golpe de trocar a promessa vã pela realpolitik. Se os custos sociais se elevarem, o gosto de traição pode acabar em protestos nas ruas. Não nos esqueçamos do ensaio de meados de 2013 quando os políticos ficaram boquiabertos quando o povo saiu para dizer que “tudo está errado”. Uma caminhada sem destino que estas eleições podem evitar.
Do ponto de vista estatístico há indicação mais clara, mesmo que não totalmente garantida, de que haverá segundo turno. Dilma pode ganhar logo agora, mas é menos provável que isso ocorra, mesmo porque o eleitor parece neste momento mais decidido e disposto a entregar mais votos para a oposição como um todo que há menos de um mês. Todavia, seria irresponsável ser categórico nesta afirmação. É preciso ver para crer.
De outro lado, reafirma-se a tendência mais recente de um empate estatístico entre Marina Silva e Aécio Neves, mas é inegável que as indicações são de que o mineiro conseguiu incorporar os votos de oposição ao PT, sobretudo no Sudeste e Sul do país e dentre aqueles mais alfabetizados e com renda mais elevada. O empate técnico “estatístico” não é, portanto, uma igualdade “qualitativa”. Aécio deve ser o candidato oposicionista no segundo turno, se o eleitor se comportar em conformidade com as tendências verificadas há pouco menos de duas semanas. Podem haver ruídos estatísticos neste processo, mas serão exceções à tendência consistente verificada.
Desde o debate da Rede Globo, aqui e ali, já se levantam avaliações no governismo em relação de quem seria melhor enfrentar no segundo turno. Não se pode atribuir um consenso entre os petistas no que tange a este tema. Uns parecem preferir Aécio Neves – seria mais “previsível” – outros prefeririam Marina Silva – “em fase de desidratação”, segundo o marqueteiro de Dilma, João Santana. Do ponto de vista analítico, tudo parece estar no campo do mero “achismo” por duas razões básicas. A primeira é que o segundo turno será um jogo de “paridade de armas” no que se refere ao tempo de rádio e TV, bem como haverá mais tempo para os debates diretos nos órgãos de comunicação. Sem os partidos nanicos, o eleitor se ocupará da essência da disputa que é o antipetismo contra o governismo de quase doze anos. A segunda razão é quesão esperados ajustes na forma e no conteúdo das campanhas para incorporar os pontos a serem combatidos no campo do adversário, bem como para atrair os eleitores que votaram em outros candidatos. Logo, somente após a abertura da campanha é que poderão os candidatos finais avaliar o que vem pela frente.
Se Aécio Neves seguir em frente na eleição, o apoio de Marina Silva é importante, mas é muito menos decisivo que seria no caso da hipótese contrária. Marina precisará mais de Aécio, caso passe pelo teste deste domingo. Isso porque Marina não tem estrutura partidária e de campanha para engendrar um arranque rápido e certeiro contra Dilma – somente três semanas separam o primeiro do segundo turno. Além disso, o eleitor desconfiou de que a candidata do PSB não é uma antipetista na essência – Aécio levantou este aspecto com eficácia política. Marina seria uma “cristã nova” que não reza uma cartilha clara em relação ao seu programa e frente ao Governo. A verdade, neste caso, não é tema aristotélico, trata-se de mera “jogada de cena” que, no caso, funcionou.
A eventual vitória de Marina Silva como oposicionista neste primeiro turno terá de ser acompanhada por uma “repaginada” na ambientalista. De fato, ela não pôde se defender nos dois minutos que dispunha na campanha do rádio e da TV. Contudo, suas aparições na “mídia espontânea” foram, se não desastrosas, pouco eficientes para mostrar que estava preparada para a luta eleitoral e para ser presidente. O eleitor não brinca com o seu voto. Aécio Neves, se derrotado, correrá para o palanque de Marina. Não lhe resta opção. Sem ela, lhe sobrará a herança de uma campanha desastrada e, ainda, a maior responsabilidade por deixar a esguia acreana solitária contra um partido organizado e um governo ferino contra seus adversários. A derrota provável em Minas é outro fator a justificar o seu apoio a Marina no segundo turno.
O grande trunfo de Aécio Neves, candidato mais provável no segundo turno, em ter Marina no seu palanque será o de demonstrar compromisso evidente com políticas sociais. Afinal de contas, a sua aposta até agora foi a de mostrar a incompetência de Dilma na gestão da economia e dos programas econômicos do governo. O eleitor mais pobre, especialmente do Norte e do Nordeste concentra as desconfianças de que o mineiro irá minorar os avanços sociais dos últimos doze anos (não apenas os da gestão de Dilma). Marina poderia ser uma espécie de “fiadora” do lado social do tucano.
A aposta de Dilma contra Aécio Neves será a de mostrar para o eleitorado que os governos tucanos quebraram o país três vezes (na administração de FHC) e que os programas sociais serão dizimados pela administração dos burocratas que apoiam o mineiro. Armínio Fraga em breve se tornará a “Neca Setúbal” de Aécio Neves. Dilma já deu provas desta estratégia no debate da Rede Globo. Todavia, a atual presidente fará acenos para os setores mais ricos da sociedade. Dirá que a política econômica mudará em alguns aspectos, que será preciso atrair o capital privado para os projetos e que a competitividade brasileira precisa ser incrementada, etc. e tal. Se de um lado, Aécio tentará ser “mais social”, Dilma mostrar-se-á mais próxima do capital, dos empresários e da classe média. Um jogo de aproximações no qual o marketing pesará muito mais que os programas e as crenças efetivas dos políticos. Estamos num mundo imagético e nos aprofundaremos nele, provavelmente com espasmos de grosserias e agressões. A entrevista deste sábado de Armínio Fraga no jornal O Estado de S.Paulo é uma evidência de que o tucanato tenta tirar a gravata e vestir o macacão. Fraga foi incisivo propugnador de planos na área social e tenta mostrar que a agenda de Aécio incorpora os principais temas sociais dos governos petistas. A conferir na urna.
As pesquisas deste último dia antes da eleição não foram esclarecedoras no que tange às probabilidades de cada candidato ter um maior ou menor sucesso neste domingo de eleição. Isso se deve a divisão profunda do eleitorado. Segunda-feira será um novo dia para a política. O segundo turno será inaugurado. É mais provável que seja com Dilma e Aécio. Pode ser que Marina dispute com Dilma. A presidente pode até levar a taça definitivamente para casa. Todavia, não devemos nos enganar: o eleitor anda muito arisco e quer ver resultados. Depois da eleição não vai ser fácil aplicar o velho golpe de trocar a promessa vã pela realpolitik. Se os custos sociais se elevarem, o gosto de traição pode acabar em protestos nas ruas. Não nos esqueçamos do ensaio de meados de 2013 quando os políticos ficaram boquiabertos quando o povo saiu para dizer que “tudo está errado”. Uma caminhada sem destino que estas eleições podem evitar.
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