Datafolha e Ibope: Deve haver segundo turno e Aécio será o antipetista
As duas últimas pesquisas eleitorais do Ibope e do
Datafolha não esclareceram muito em termos estatísticos, mas
evidenciaram que a tendência de haver segundo turno e de Aécio Neves ser
o representante do antipetismo.
Por Francisco Petros
A primeira observação a se fazer sobre as duas pesquisas
referentes à corrida eleitoral para a Presidência da República,
publicadas neste sábado pelo Datafolha e Ibope, é que há evidente
convergência entre estas, conforme se depreende dos números apresentados
em quase todos os seus aspectos. Refiro-me não apenas às diferenças
entre os candidatos, mas também em relação à distribuição dos votos por
regiões, classes de renda e idade. Os dados coletados no mesmo intervalo
de tempo parece ter contribuído para isto. Do ponto de vista estatístico há indicação mais clara, mesmo que não
totalmente garantida, de que haverá segundo turno. Dilma pode ganhar
logo agora, mas é menos provável que isso ocorra, mesmo porque o eleitor
parece neste momento mais decidido e disposto a entregar mais votos
para a oposição como um todo que há menos de um mês. Todavia, seria irresponsável ser categórico nesta afirmação. É preciso ver para crer. De outro lado, reafirma-se a tendência mais recente de um empate
estatístico entre Marina Silva e Aécio Neves, mas é inegável que as
indicações são de que o mineiro conseguiu incorporar os votos de
oposição ao PT, sobretudo no Sudeste e Sul do país e dentre aqueles mais
alfabetizados e com renda mais elevada. O empate técnico “estatístico”
não é, portanto, uma igualdade “qualitativa”. Aécio deve ser o candidato
oposicionista no segundo turno, se o eleitor se comportar em
conformidade com as tendências verificadas há pouco menos de duas
semanas. Podem haver ruídos estatísticos neste processo, mas serão
exceções à tendência consistente verificada.
Aécio deve ser o antipetista no segundo turno (Orlando Brito/Coligação Muda Brasil)Desde o debate da Rede Globo, aqui e ali, já se levantam avaliações
no governismo em relação de quem seria melhor enfrentar no segundo
turno. Não se pode atribuir um consenso entre os petistas no que tange a
este tema. Uns parecem preferir Aécio Neves – seria mais “previsível” –
outros prefeririam Marina Silva – “em fase de desidratação”, segundo o
marqueteiro de Dilma, João Santana. Do ponto de vista analítico, tudo
parece estar no campo do mero “achismo” por duas razões básicas. A
primeira é que o segundo turno será um jogo de “paridade de armas” no
que se refere ao tempo de rádio e TV, bem como haverá mais tempo para os
debates diretos nos órgãos de comunicação. Sem os partidos nanicos, o
eleitor se ocupará da essência da disputa que é o antipetismo contra o
governismo de quase doze anos. A segunda razão é quesão
esperados ajustes na forma e no conteúdo das campanhas para incorporar
os pontos a serem combatidos no campo do adversário, bem como para
atrair os eleitores que votaram em outros candidatos. Logo, somente após
a abertura da campanha é que poderão os candidatos finais avaliar o que
vem pela frente. Se Aécio Neves seguir em frente na eleição, o apoio de Marina Silva é
importante, mas é muito menos decisivo que seria no caso da hipótese
contrária. Marina precisará mais de Aécio, caso passe pelo teste deste
domingo. Isso porque Marina não tem estrutura partidária e de campanha
para engendrar um arranque rápido e certeiro contra Dilma – somente três
semanas separam o primeiro do segundo turno. Além disso, o eleitor
desconfiou de que a candidata do PSB não é uma antipetista na essência –
Aécio levantou este aspecto com eficácia política. Marina seria uma
“cristã nova” que não reza uma cartilha clara em relação ao seu programa
e frente ao Governo. A verdade, neste caso, não é tema aristotélico,
trata-se de mera “jogada de cena” que, no caso, funcionou. A eventual vitória de Marina Silva como oposicionista neste primeiro
turno terá de ser acompanhada por uma “repaginada” na ambientalista. De
fato, ela não pôde se defender nos dois minutos que dispunha na campanha
do rádio e da TV. Contudo, suas aparições na “mídia espontânea” foram,
se não desastrosas, pouco eficientes para mostrar que estava preparada
para a luta eleitoral e para ser presidente. O eleitor não brinca com o
seu voto. Aécio Neves, se derrotado, correrá para o palanque de Marina.
Não lhe resta opção. Sem ela, lhe sobrará a herança de uma campanha
desastrada e, ainda, a maior responsabilidade por deixar a esguia
acreana solitária contra um partido organizado e um governo ferino
contra seus adversários. A derrota provável em Minas é outro fator a
justificar o seu apoio a Marina no segundo turno. O grande trunfo de Aécio Neves, candidato mais provável no segundo
turno, em ter Marina no seu palanque será o de demonstrar compromisso
evidente com políticas sociais. Afinal de contas, a sua aposta até agora
foi a de mostrar a incompetência de Dilma na gestão da economia e dos
programas econômicos do governo. O eleitor mais pobre, especialmente do
Norte e do Nordeste concentra as desconfianças de que o mineiro irá
minorar os avanços sociais dos últimos doze anos (não apenas os da
gestão de Dilma). Marina poderia ser uma espécie de “fiadora” do lado
social do tucano. A aposta de Dilma contra Aécio Neves será a de mostrar para o
eleitorado que os governos tucanos quebraram o país três vezes (na
administração de FHC) e que os programas sociais serão dizimados pela
administração dos burocratas que apoiam o mineiro. Armínio Fraga em
breve se tornará a “Neca Setúbal” de Aécio Neves. Dilma já deu provas
desta estratégia no debate da Rede Globo. Todavia, a atual presidente
fará acenos para os setores mais ricos da sociedade. Dirá que a política
econômica mudará em alguns aspectos, que será preciso atrair o capital
privado para os projetos e que a competitividade brasileira precisa ser
incrementada, etc. e tal. Se de um lado, Aécio tentará ser “mais
social”, Dilma mostrar-se-á mais próxima do capital, dos empresários e
da classe média. Um jogo de aproximações no qual o marketing pesará
muito mais que os programas e as crenças efetivas dos políticos. Estamos
num mundo imagético e nos aprofundaremos nele, provavelmente com
espasmos de grosserias e agressões. A entrevista deste sábado de Armínio
Fraga no jornal O Estado de S.Paulo é uma evidência de que o tucanato
tenta tirar a gravata e vestir o macacão. Fraga foi incisivo propugnador
de planos na área social e tenta mostrar que a agenda de Aécio
incorpora os principais temas sociais dos governos petistas. A conferir
na urna. As pesquisas deste último dia antes da eleição não foram
esclarecedoras no que tange às probabilidades de cada candidato ter um
maior ou menor sucesso neste domingo de eleição. Isso se deve a divisão
profunda do eleitorado. Segunda-feira será um novo dia para a política. O
segundo turno será inaugurado. É mais provável que seja com Dilma e
Aécio. Pode ser que Marina dispute com Dilma. A presidente pode até
levar a taça definitivamente para casa. Todavia, não devemos nos
enganar: o eleitor anda muito arisco e quer ver resultados. Depois da
eleição não vai ser fácil aplicar o velho golpe de trocar a promessa vã
pela realpolitik. Se os custos sociais se elevarem, o gosto de
traição pode acabar em protestos nas ruas. Não nos esqueçamos do ensaio
de meados de 2013 quando os políticos ficaram boquiabertos quando o povo
saiu para dizer que “tudo está errado”. Uma caminhada sem destino que
estas eleições podem evitar.
Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF)
- Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia.
Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.
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